- Então é isso! O Falcão Vermelho vai pela porta dos fundos, o Pata de Urso rende os guardas e eu vou esperar no carro forte, armado até os dentes!
Os outros dois olhavam um para o outro meio confusos enquanto o homem mais baixo e de chapéu delirava com o sucesso de seu próprio plano. Então o homem de bigode engraçado criou coragem:
- Err... eu não sei.... não parece que vai dar certo...
Houve um momento esquisito de silêncio, até que o homem troncudo com cara de “chupei um limão, azedou, mas eu até que não achei tão ruim” disse:
- Acho que não vamos precisar de codinomes assim.
- É verdade! – concordou o hesitante homem do bigode engraçado. – Err...como posso dizer? Não precisamos parecer uma tribo indígena descendo dos céus com fúria xamânica!
- Ora, mas precisamos passar respeito! Mostrar quem está no controle da situação! Não vamos fazer isso nos chamando por nossos nomes! Quer dizer, como vamos ser levados a sério se eu te chamar de Diego? Ou se vocês me chamarem de senhor Garcia? – ele hesitou por um tempo, indignado por ter sido contrariado. Então se virou para o homem de bigode engraçado. – Raios, espero que você não queira que eu me refira a você como Tremoço!
Então, um pensamento raro visitou a cabeça geralmente vazia do homem grande que agora sabemos se chamar Diego, e ele teve algo parecido com uma epifania.
- Aliás, qual é seu nome de verdade, Tremoço? – perguntou por fim.
- É uma história complicada. Não quero falar sobre isso. – Tremoço desviou o olhar para seu copo de cappuccino e deu um longo gole.
- Bom, continuando com o plano... – o senhor Garcia tentava colocar o trem de pensamento de volta nos trilhos.
- Ninguém aqui te chama de senhor Garcia, Ernesto. Você pode tentar quantas vezes quiser, mas não vamos te chamar assim! – protestou Diego, fazendo o trem descarrilar e explodir perigosamente perto da próxima parada.
- Isso! Vamos falar do SEU nome! Não do meu! O meu não tem graça! – Tremoço apontava vitorioso e aliviado para Ernesto. – E não vamos te chamar de Grão-Mestre Caribú também!
- Vocês se atêm a detalhes insignificantes! Quanto ao plano... – Ernesto tentava consertar seu trem de pensamento usando um hashi e um frisbee.
- Ouvi dizer que hoje em dia o que dá dinheiro é vender terreno na internet. – Disse Diego, com um olhar pouco focado e segurando seu copo de suco de framboesa.
- Mas terreno de quê, homem? – Tremoço estava curioso.
- Ah, de lugares grandes e cheios deles, é claro. Tipo...sei lá....
- A Lua? – arriscou Tremoço.
- Sim! Lugares que não existem devem dar mais dinheiro ainda!
Então repararam que Ernesto estava falando sozinho olhando para a planta do banco. Ignoraram e continuaram conversando sobre as possibilidades de venda na internet.
- O que aqueles caras fazem da vida, Geléia? – perguntou o Artista Solitário.
- Ficam tentando arrumar um jeito de não trabalhar. São boas pessoas. Criativas e tal, mas são muito preguiçosos.
- Hmm. Acho que entendo isso...
"Aliás, qual é seu nome de verdade, Tremoço?" |
Texto de Ricardo Pedroni (www.elkreme.blogspot.com)