O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dinheiro Fácil

 - Então é isso! O Falcão Vermelho vai pela porta dos fundos, o Pata de Urso rende os guardas e eu vou esperar no carro forte, armado até os dentes!
Os outros dois olhavam um para o outro meio confusos enquanto o homem mais baixo e de chapéu delirava com o sucesso de seu próprio plano. Então o homem de bigode engraçado criou coragem:
 - Err... eu não sei.... não parece que vai dar certo...
Houve um momento esquisito de silêncio, até que o homem troncudo com cara de “chupei um limão, azedou, mas eu até que não achei tão ruim” disse:
- Acho que não vamos precisar de codinomes assim.
- É verdade! – concordou o hesitante homem do bigode engraçado. – Err...como posso dizer? Não precisamos parecer uma tribo indígena descendo dos céus com fúria xamânica!
 - Ora, mas precisamos passar respeito! Mostrar quem está no controle da situação! Não vamos fazer isso nos chamando por nossos nomes! Quer dizer, como vamos ser levados a sério se eu te chamar de Diego? Ou se vocês me chamarem de senhor Garcia? – ele hesitou por um tempo, indignado por ter sido contrariado. Então se virou para o homem de bigode engraçado. – Raios, espero que você não queira que eu me refira a você como Tremoço!
Então, um pensamento raro visitou a cabeça geralmente vazia do homem grande que agora sabemos se chamar Diego, e ele teve algo parecido com uma epifania.
 - Aliás, qual é seu nome de verdade, Tremoço? – perguntou por fim.
 - É uma história complicada. Não quero falar sobre isso. – Tremoço desviou o olhar para seu copo de cappuccino e deu um longo gole.
 - Bom, continuando com o plano... – o senhor Garcia tentava colocar o trem de pensamento de volta nos trilhos.
 - Ninguém aqui te chama de senhor Garcia, Ernesto. Você pode tentar quantas vezes quiser, mas não vamos te chamar assim! – protestou Diego, fazendo o trem descarrilar e explodir perigosamente perto da próxima parada.
 - Isso! Vamos falar do SEU nome! Não do meu! O meu não tem graça! – Tremoço apontava vitorioso e aliviado para Ernesto. – E não vamos te chamar de Grão-Mestre Caribú também!
 - Vocês se atêm a detalhes insignificantes! Quanto ao plano... – Ernesto tentava consertar seu trem de pensamento usando um hashi e um frisbee.
 - Ouvi dizer que hoje em dia o que dá dinheiro é vender terreno na internet. – Disse Diego, com um olhar pouco focado e segurando seu copo de suco de framboesa.
 - Mas terreno de quê, homem? – Tremoço estava curioso.
 - Ah, de lugares grandes e cheios deles, é claro. Tipo...sei lá....
 - A Lua? – arriscou Tremoço.
 - Sim! Lugares que não existem devem dar mais dinheiro ainda!
Então repararam que Ernesto estava falando sozinho olhando para a planta do banco. Ignoraram e continuaram conversando sobre as possibilidades de venda na internet.

 - O que aqueles caras fazem da vida, Geléia? – perguntou o Artista Solitário.
 - Ficam tentando arrumar um jeito de não trabalhar. São boas pessoas. Criativas e tal, mas são muito preguiçosos.
 - Hmm. Acho que entendo isso...

"Aliás, qual é seu nome de verdade, Tremoço?"

Texto de Ricardo Pedroni (www.elkreme.blogspot.com)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Embriaguez


            Noite calma no “Café do Geléia”. Chovia lá fora e transeuntes passavam sempre apressados se protegendo da água com guarda-chuvas, mochilas, jornais e o que mais encontrassem como se a única coisa que importasse fosse o local aonde eles chegariam, que muitas vezes nem eles sabiam qual era. Um freguês costumeiro do local decidiu entrar trazendo consigo o barulho de passos molhados.
            Era o Gótico. Seu sobretudo estava estranhamento seco considerando a chuva lá fora e sua maquiagem digna de sua tribo estava imaculada. Escolheu uma mesa próxima de uma das janelas onde ficou parado observando a cidade iluminada que se estendia à sua frente. Enquanto se perdia em pensamentos de dor amorosa seu amigo, o Conde, havia chegado.
            - Temos uma ótima noite em nossas mãos, estou certo meu amigo? – Perguntou o Conde com um tom de nobreza enquanto retirava seu casaco.
            - Se é assim que chama uma noite em que lágrimas caem dos céus, creio que está certo amigo. – O Gótico soava como o costumeiro.
            Logo que se sentou o Conde pediu uma garrafa do melhor vinho da casa e prosseguiu com um sorriso romântico em seu rosto:
            - Caro amigo, estou cortejando a moça mais bela de minhas terras! Em seus olhos vejo o brilho de estrelas cadentes que me trazem desejos aconchegantes em todas as noites! – Gesticulava ao falar, caracterizando mais ainda o ar poético que expressava.
            - Tem sorte... Eu só cortejo uma dama agora e ela se chama agonia... Agonia, pois é disso que é feito o verdadeiro amor. – O Gótico olhou pela janela com olhos pesados que quase irritaram o Conde.
            O vinho chegou e o Conde dispensou a Garçonete Anete com um beijo nas costas de sua mão. Abriu a garrafa e serviu as duas taças que foram dispostas à mesa. Recostou-se na cadeira com assento de veludo e continuou sua declaração de amor.
            - Meu amigo! Estou tão apaixonado que quero contar ao mundo todas as felicidades que trarei para minha dama. – Deram um grande gole depois de um brinde. – Minha dama merece os melhores vestidos, as melhores terras e tudo isto vindo do melhor homem para amá-la! – Recarregou as taças.
            - Pois estou em tamanha dor que tenho vontade de só dizer “Adeus” ao mundo. Contemplaria minha amada como um espírito sempre ao seu lado e sem ela ao menos saber... Minha dor alimentada por agonia e desespero traria luz apenas para a minha alma... – Mais goles.
            - Ora, meu caro! O amor... – Gole. – O Amor! É o melhor sentimento que terás! Não sinta tristeza! – Taça cheia. – Pegue sua amada e diga para ela o que sente! Agarre-a em um forte abraço e dê o beijo apaixonado pelo qual ela espera! – Brinde.
            - Se fosse fácil assim não se chamaria amor. Viver é sofrer e amar é se machucar... – Goles e mais goles. – Devo escrever poesias para ela! Devo sussurrar seu nome aos oito ventos e vê-la ser feliz de longe, pois só assim ela estará segura de toda a dor de meu amor! – Garrafa se esvazia mais.
            O Conde subiu em sua cadeira enquanto fazia declarações.
            - Se te vistes aqui, minha doce, doce amada! Faria eu uma serenata! Uma canção sobre o acalento de vosso seio! Uma melodia sobre tão formoso sentimento! Uma composição para todos fascinar e só a nós apaixonar! Se eu pudesse neste momento desejar, desejaria vossa beleza como meu par! Mas como neste momento só posso sonhar então com você esta alma dormirá!
            Todos aplaudiram. Lágrimas correram em rostos de pessoas que mal o conheciam e nem o mais bravo dos homens ali presentes pode conter um suspiro romântico. Todos se emocionaram, menos o Menino Ottis.
            - Estão bêbados, Geléia? – Perguntou com um rosto confuso e tomando um gole de refrigerante que estranhamente o lembrou de garotas e fez um nojo subir por sua garganta.
            - Não... Estão apaixonados. – Parou e pensou – Mas enfim... Bêbado ou apaixonado... Qual é a diferença não é mesmo, garoto? No fim o efeito é quase o mesmo... Acho que a diferença é que quando se está apaixonado, você se lembra do que aconteceu. – Uma lágrima furtiva lhe desceu na bochecha gorda.
            E a chuva caía lá fora.

"Caro amigo, estou cortejando a moça mais bela de minhas terras! Em seus olhos vejo o brilho de estrelas cadentes que me trazem desejos aconchegantes em todas as noites!"