A palavra é
uma dádiva por si só. O poder de expressar seu sentimentos em sons
interpretados de forma coerente (ou não) pelos cérebros alheios é algo simples,
porém impressionante. Mas a palavra é uma fonte de poder maior ainda se esta
for escrita, passada para um papel, parede, rocha ou o que quer que seja o
material. A palavra escrita é a maior invenção da humanidade.
Eu gostaria
de poder dizer no começo deste texto que todo ser humano pode e gosta de ler,
mas por questões sociais absurdas isso não é verdade. Depois de rabiscar
desenhos incoerentes em folhas em branco, aprender a amontoar blocos e quebrar
brinquedos, ler é a primeira coisa que um ser humano aprende. Você desde muito
jovem precisa aprender a ler e escrever para poder expressar e compreender o
poder da palavra passado pelas gerações. As palavras escritas são como os
ingredientes para um feitiço que, quando bem elaborado e misturado causa
efeitos diversos nas imaginações de quem o interpretar.
Eu
sinceramente não compreendo como certas pessoas podem dizer que “Não gostam de
ler”. Como isso é possível? Pelos meus poucos anos de vivência entre a raça
humana eu posso confirmar uma coisa: Muitos gostariam de ser outra coisa. Desde
um motorista de ônibus querendo ser engenheiro, até aquele garoto recluso que
adoraria ser um super-herói ou capitão de uma nave espacial. Certos desejos e vontades são
impossíveis, mas o imaginário coletivo e a capacidade de transcrever
sentimentos em escrita torna esses desejos possíveis! Não me considero um
devorador de livros como certas pessoas que conheço, mas já li bons volumes
para poder falar a respeito de autores e estórias e devo afirmar que foram as
melhores experiências que tive sozinho!
Considerando
este tema todo, posso dizer que já fui muitas coisas nessa vida. Certa vez
fui um cavaleiro. Um reino estava em guerra e eu fazia parte daquilo tudo.
Quando nesse papel, eu podia sentir, no virar de páginas, a emoção de batalhas!
Juro que em certas batalhas das muitas lutadas eu podia ouvir os gritos de
homens que morriam, os gritos de vitória, os gritos de comando e o estrondo de
escudos se chocando. Posso afirmar que já comandei uma equipe de lanceiros
iguais a mim e posso jurar pelos deuses que acreditei que aqueles eram como
irmãos ao meu lado. Poderia recontar guerras, feitos heróicos, traições, invejas e
erros de conterrâneos e invasores do reino e, pelos deuses, posso até descrever
meu casamento com a mais bela princesa daquela terra.
É graças a
palavra escrita que também posso dizer aqui, escrevendo, que já fui um
detetive. Me diga: quantos detetives vocês conhecem? Eu pessoalmente não conheço
um sequer, mas posso afirmar que fui um muito diferente de todos. Este detetive
vinha de um mundo onde se podia transitar entre o planeta Terra e a Lua. A
missão que fiz parte envolvia o assassinato sangrento de um figurão nas mãos de
androides, réplicas quase perfeitas de um humano. Eu encontrei repórteres
gostosonas (e tive um caso com uma), clones encomendados por megacorporações,
assassinos enviados pela mesma para impedir minha investigação e até aprendi um
pouco de astrofísica enquanto estava no trabalho. Como toda boa estória de
detetive durão, ela não acabou bem. Mas foi uma grande experiência que me deu a
vontade de partir para outras.
Um livro na
mão é como um mundo inteiro encadernado em couro ou papelão barato. É um mundo
inteiro que você leva por aí. São pessoas novas que você conhece profundamente
sem nunca ouvir as vozes delas... E o mais interessante, é que ao mesmo tempo
que você passa por estas experiências sozinho, você pode conhecer pessoas que
compartilham da mesma, mesmo nunca estando lá com você! E, se a aventura for boa
de verdade, tenho certeza que será um prazer conversar sobre ela durante muitos
anos com as pessoas que também a viveram.
Se depois
de tudo isso que foi escrito aqui, usando a magia das palavras, você não tem
vontade de sair daí e ler um livro e ser alguém diferente de si... Por favor,
me explique como é possível você não gostar de experiências fantásticas como
estas descritas.
"[...] posso dizer que já fui muitas coisas nessa vida." |