O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Exorcismo

            Mais uma noite de insônia. O Artista Solitário, percebendo que não dormiria hoje, foi ao Café do Geléia e pediu o de sempre. Levou consigo seu caderno e o velho lápis 3B que estava quase acabando. Borrachas sempre foram desnecessárias.
            Se dirigindo à sua mesa costumeira percebeu algo diferente. A Cineasta Desacreditada estava lá sentada, óculos brilhando sob a luz fraca, mão esquerda colocada embaixo da axila direita, mão direita mexendo e remexendo o expresso à sua frente. Ele caminhou devagar com o caderno embaixo do braço e o olhar pesado de sempre e logo se sentou no assento estofado oposto ao dela.
            - Sem sono de novo? – Ela perguntou sem tirar os olhos da bebida.
            - Só pra variar um pouco. O que está fazendo aqui? – Ele se debruçou na mesa.
            Ela mexeu um pouco mais na bebida, entortou a boca de leve e disse suspirando:
            - Eu assisti “O Exorcista” hoje... – Pegou a xícara e levou aos lábios.
            O Artista abriu seu caderno e começou a rascunhar. Nada lhe vinha à mente, mas rabiscos aleatórios têm o péssimo hábito de deixar uma idéia para trás. Às vezes tarde demais.
            - Você já assistiu esse filme, cara? – Arriscou a Cineasta.
            - Não. Filmes de Exorcismo não são meu forte... – Continuava rabiscando.
            - É que acho meio estranho, sabe? O Diabo em pessoa tomando posse de uma menina... Quero dizer, o que ele pode obter disso? Ele não vai conseguir poder político nem força física... Ela tem 12 anos, pelo amor de Deus!
            - As vezes esse demônio não é compreendido...
            - O que quer dizer? – Ela tomou um gole de café e rapidamente tirou dos lábios ao perceber que ainda estava muito quente.
            - Bem, quero dizer... Imagine que você vive no inferno... Alguns dizem que lá deve ser mais legal que o céu e tudo o mais... Mas acho que uma hora você se cansa...
            - Então possúi uma menina pra tentar viver normalmente de novo?
            - Acho que sim. – Uma idéia lhe veio a cabeça, mas logo fugiu.
            A Cineasta parou por um segundo. Até que fazia sentido, mas uma coisa ainda encafifava seu cérebro:
            - Então por que ela fica tão violenta?
            -... É nesse filme que vários demônios habitam o corpo dela?
            - Não. Isso é no “Exorcismo de Emily Rose”.
            - Hmm... Então vai ver nesse caso o demônio só está irritado por que é apenas uma criança de 12 anos. – Bebeu um pouco do café com chantilly e percebeu que o gosto estava começando a ficar estranho...
            - E se fossem vários demônios?
            - Bem, é só você parar para pensar. Imagine que você quer férias do inferno e decide habitar um corpo, mas junto de você chegam mais 40 demônios... As vezes 99! Basta ver Jesus Cristo contra o Legião. Enfim, acho que eu ficaria irritado de ter que dividir o espaço espiritual com mais um monte de demônios cuja violência e sede de sangue são intrínsecas de nossa raça.
            - Faz sentido. – Sua bebida agora estava na temperatura certa.


            - ARGH! – Berrou o Menino Ottis do outro lado do Café.
            - O que foi, Ottis? – Perguntou o Geléia preocupado com o menino ficando fora até tão tarde.
            - Meu refrigerante... Ta com gosto de agonia, violência e sofrimento. – Parou, olhou para a lata e voltou a beber. – Gostaria de bater nos meninos folgados da escola agora mesmo, Geléia.
            - Vou chamar o Padre.
 
"Quero dizer, o que ele pode obter disso? Ele não vai conseguir poder político nem força física... Ela tem 12 anos, pelo amor de Deus!"


3 comentários:

Julia Taddeo disse...

qual seria a explicação do artista solitário pr'a menina do atividade paranormal? :D

Anônimo disse...

Adoro contos de Ispritos.

Beijo do Anônimo!

Bino disse...

UEuaehUAehAUEH é o capeeeeeetaaaaa!