O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Infância

           Nada como um dia quente de verão. Para certas pessoas o calor é algo irritante só de se pensar, para outras é algo agradável que elas esperam sentir todos os dias. Para uma criança o tempo realmente não importa. Nada é motivo para deixar de aproveitar o dia.
            Mas o dia estava agradável. Um dia ensolarado, com uma brisa refrescante e nenhuma nuvem no céu fortemente azulado. Aqueles que prestassem atenção veriam crianças correndo para lá e para cá com seus brinquedos e às vezes até seus animais de estimação. Mas um grupo se destacava do resto. Se você prestasse atenção veria o Menino Ottis escondido no topo de uma arvore baixa usando um cocar e levando consigo uma espingarda de brinquedo que fazia um barulho de quebrada. Qualquer um diria que ele estava brincando de índio... Mas os adultos são muito sem graça. Ottis sabia que não estava em um parque, ele sabia também que tinha uma missão.
            Do topo da árvore ele podia ver toda a vastidão da Grande Planície. Ele estava fazendo seu turno de guarda para impedir que mais servos da Bruxa viessem até o forte. Seus amigos Gregório, Thelma e K.D. (cujo nome verdadeiro era desconhecido) estavam no forte recuperando forças e traçando novos planos para encarar os servos da Bruxa. Eles eram os últimos sobreviventes da Grande Planície. Todos os outros países já tinham sido dominados e crianças agora eram adultos sem imaginação ou cachorros com empregos e gravatas e o destino do mundo estava agora na mão deste pequeno grupo.
            A vigia estava calma. Calma demais. O fuzil laser de anti-matéria gravitacional deixava Ottis mais confiante, mas o medo nunca realmente saíra de seu coração. A Bruxa era um adversário formidável e seu exército de robôs era quase invulnerável. O vento soprando trazia sons com os quais Ottis já estava acostumado e, embora não fosse admitir se o perguntassem, ele estava quase caindo no sono com o tédio do posto que o colocaram. Mas o tédio logo foi quebrado. O vento parou e a terra tremeu. Ottis logo se levantou, segurou o fuzil com força e logo soprou a trombeta de alerta que foi escutada no forte.
            - Robôs? – Perguntou Thelma que encantava pedras com força explosiva.
            - Ottis nunca soaria a trombeta em vão! – Exclamou Gregório já se levantando e levando consigo seu Bastão Ancestral (feito com madeira da Árvore da Vida).
            Enquanto todos se levantavam, K.D. ficou para trás distraído com os dados que analisava em seu computador de bolso e só percebeu que estava ficando para trás depois de uma pedra atingir seu capacete cibernético. Depois do baque olhou confuso para os lados e viu Thelma parada na porta.
            - Pegue seu estilingue e venha! É hora da grande luta! – Ela correu para fora.
            - Sempre apressados! Eu estava vendo dados de luta em meu computador de batalha! – Gritou enquanto corria atrás do grupo.
            Quando todos chegaram até a arvore de vigia a terra tremia cada vez mais.
            - Cuidado pessoal! Eles trouxeram um Robô M.O.R.T.A.L. dessa vez!!! – Ottis exclamou enquanto olhava o horizonte.
            Todos olharam perplexos enquanto a multidão de ferro e eletricidade se movia em direção a eles acompanhada pelo monte assustador de metal.
            - Eles querem mesmo acabar com este território não é mesmo? – perguntou Thelma sorrindo diante do desafio.
            - O que é um robô M.O.R.T.A.L.? – Perguntou Gregório.
            - Máquina Opressora, Retalhadora e Tática de Assalto Local. É um dos robôs mais fortes da Bruxa! – Disse K.D. analisando seus dados de batalha.
            - Sem tempo para conversas pessoal! Aí vem eles! – Ottis armou seu fuzil.
            Disparos elétricos vieram na direção dos garotos. O chão era acertado com uma força absurda levantando terra e poeira no campo de batalha enquanto relâmpagos eram revidados com pedras explosivas e tiros anti-matéria. O barulho de metal retorcendo e se partindo era alto nas planícies e as crianças estavam fazendo um excelente trabalho. Mas o coração de todos foi partido ao som de uma risada estridente. Todos olharam para cima alarmados e Gregório exclamou:
            - Essa não! É a Bruxa!!! – E saltou para trás de uma moita
            - Bruxa!? Que história é essa Gregório? – Perguntou a mulher horrenda que parava entre eles e a horda de robôs.
            - Ah, mãe! Já é hora de ir embora? – Perguntou Thelma soltando sua capa de invisibilidade.
            - Sim, querida. Vamos encontrar seu pai para jantarmos. – A mãe de Thelma tentava limpar a poeira do vestido da menina.
            - Droga... É, meninos... Acho que os robôs terão que se ver com a gente na próxima...
            - Tudo bem, Thelma. – Disse Gregório enquanto acenava para ela.
            - É! Eles não terão chance da próxima vez! – Disse K.D. já sentando no chão a puxando seu baralho de Magic do bolso.
            - Então até outro dia, pessoal! – Ela correu para alcançar a mãe.
           
Ottis desceu da árvore, largou sua espingardinha, soltou um suspiro e disse:
            - Ainda bem que ela se foi. Mais alguns segundos e aquela garota iria nos trair. Certeza!
            Andou até os amigos sentados na grama e se deitou. K.D e Gregório imitaram o gesto.
            - Foi uma boa luta. – Disse K.D. soando feliz.
            - É... Sabe pessoal. Eu espero que isso não acabe nunca!
            E lá ficaram os garotos. Tramando planos e contando histórias e aproveitando a vida que sua idade lhes proporcionava. Afinal, eles tinham todo o tempo do mundo, por mais curto que ele fosse.

Mas o tédio logo foi quebrado. O vento parou e a terra tremeu.

Um comentário:

Li disse...

Emocionante esse texto, Jovaz. Tava discutindo sobre esse "eterno tempo" da infância ontem com a senhora minha mãe, e o quanto eu queria que isso tudo voltasse (e que nós [eu e você e a turma toda] fossemos amigos enquanto criança ahuauhau)