O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Cliente Nova

 A sineta pendurada na porta do Café anunciava a entrada de mais uma cliente. Geléia a olhou com o canto dos olhos, sem parar de enxugar o copo com o pano de prato há muito encardido. Apesar das diversas mesas vazias, em decorrência do horário, ela se sentou ao canto do balcão. Completamente molhada pela chuva, tirou o casaco e o gorro ensopados e os apoiou no banco ao lado.
            Geléia enxugou as mãos com o mesmo pano encardido e andou até a moça. Era uma cliente nova, coisa bastante rara em dias de chuva tão forte como aquele. A cliente tomou um susto ao ouvir a sua voz, como se não esperasse ser atendida.
            - Gostaria de algo para beber senhorita? Um café ou chá?
            - Um café seria bom! Estou tremendo de frio, ainda mais molhada desse jeito.
            - Vai querer comer algo também?
            - Não, só o café está ótimo.
            Ela foi servida rapidamente. O café fervendo esquentava seu corpo e reanimava um pouco seus ossos. Não possuía pretensões de ficar ali, nem sequer teria entrado, mas a chuva não lhe deu outra opção e agora parecia querer manter-la por lá. Bebeu o café vagarosamente enquanto olhava ao redor, analisando os outros clientes. Um garoto tomava refrigerante, novo demais para estar sozinho num lugar como aquele, no entanto estava. Um rapaz de gorro que desenhava incessantemente sugava seu café gelado pelo canudo sem sequer olhar para o copo. Uma moça jovem, de cabelos compridos e óculos falava alto ao celular, batendo com uma caneta em sua xícara de café; falava sobre câmeras, carros, ajudantes e um papo estranho que a nova cliente não conseguia compreender.
            Mas quem chamou sua atenção mesmo era o senhor sentado no canto mais afastado do Café, cabelos pretos já acinzentados, óculos de leitura, um casaco de frio velho e surrado. Ele fazia anotações num caderno que parecia ter a sua própria idade. Na mesa a sua frente havia algumas fotos do tipo Polaroid já quase desaparecidas, algumas moedas douradas, um relógio de bolso e alguns cartões postais. Ele olhava os objetos, fazia anotações, voltava a analisá-los e erguia as sobrancelhas.
            - É sempre bom ver clientes novos por aqui – disse Geléia se aproximando da moça para recolher sua xícara de café já vazia – Geralmente, em dias chuvosos assim, os velhos amigos são os únicos aparecer.
            - Todos aqui são habituais? – disse a cliente demonstrando certo interesse por aquelas pessoas tão curiosas.
            - Ah sim, todos esses. E muitos outros que não estão aqui agora. É raro que estejam todos aqui ao mesmo tempo, mas às vezes acontece. Um pessoal meio esquisito, mas muito legal.
            Ela olhava ao redor analisando cada um minuciosamente e todos eles continuavam com os mesmos afazeres. Geléia se apoiou no balcão e falou com a moça mais uma vez:
            - Não me leve a mal. Eu adoro novos clientes, mas sabe, não tem como não preferir os velhos.
            - Sim, eu entendo. Mas confesso que esse lugar me surpreendeu, talvez eu volte aqui mais vezes também.
            - E será muito bem vinda – Geléia sorriu simpaticamente e logo emendou – Quer mais um café?
            Ela fez que sim com a cabeça e ele foi buscar outra xícara. A chuva lá fora já dava um pouco de trégua, mas ela tinha tempo e iria esperar um pouco mais. A sineta anunciou a entrada de mais um cliente, um homem baixo de cachecol e agasalho carregando uma grande mala de viagem. Ele cumprimentou Geléia a distância e sentou-se ao lado do menino que ainda tomava refrigerante, meio que pendurado em sua cadeira e seus pés mal tocando o chão. “Mais um velho cliente” ela pensou, e nesse instante Geléia já lhe trazia a segunda xícara de café. Antes que ele pudesse sair ela segurou sua mão.
            - Posso lhe fazer uma pergunta?
            - Claro, só espero que eu possa a responder.
            - Quem é aquele senhor ali no canto? Provavelmente alguém que está sempre aqui.
            - Ah, sim! Acertou! Aquele é o Colecionador, provavelmente meu cliente mais antigo e mais fiel. Meio calado, mas um ótimo cliente.
            Ela ficou surpresa. Se era um cliente tão antigo assim, como Geléia não sabia seu nome e o chamava pelo estranho apelido de Colecionador? Aliás, colecionador de quê? Geléia olhou fixo nos olhos da nova cliente e disse:
            - Mas apesar de ser um bom cliente, não recomendo que você converse muito com ele. É uma ótima pessoa e ótimo em ouvir os outros, mas ele sempre pede algo em troca.

"- Não me leve a mal. Eu adoro novos clientes, mas sabe, não tem como não preferir os velhos."

Conto enviado por Fabio Banin (Seria uma veZ...)

2 comentários:

Bino disse...

Curti o Colecionador!

NeveZ disse...

O elenco está aumentando! E isso é muito bom!