Eu conheço
algumas pessoas que escreveram livros.
Livros sobre arte, psicologia, didáticos, livros sobre diversos assuntos
abordando diversas ciências e hobbies. Mas são poucas as pessoas que conheço
que escrevem fantasias.
Certa vez conheci
um homem assim. Um homem cuja criatividade misturada à uma pena dava ao papel
em branco um significado completamente diferente. Da tinta na ponta de aço
saíam não apenas ideias, mas criaturas, lendas, heróis, mundos inteiros. Estes
mundos vibravam com vida a cada palavra lida em suas estórias e, junto aos
personagens profundos e bem elaborados, dava toda uma atmosfera que podia quase
ser tocada com a mente dos leitores mais ávidos.
Escrever um
livro sobre um assunto que você é mestre é um trabalho para qualquer um que é
bom no que faz. Você simplesmente pega um assunto, digamos computação, e então
você começa a escrever tudo o que você sabe sobre aquilo nos capítulos
relevantes e por aí vai. Você coloca os seus conhecimentos em um papel e não é
lá muito diferente de um diário. Mas mesmo aí o diário ainda é mais
complicado... Você consegue passar os seus sentimentos do dia para uma folha
pautada ou em branco? Complicado, não? Escrever ficção é a mesma coisa. Você
precisa criar mundos inteiros e personagens que se encaixem naquele contexto e
cada um terá sentimentos, histórico, ligações emocionais e toda uma mentalidade
própria dentro do mundo e sociedade fictícia em que ele foi criado. Nem todos
tem esse dom.
Mas ele
tinha. Este meu amigo conseguia fazer tudo isso como em um passe de mágica e
sua criatividade era de dar inveja. Editoras brigavam para publicar seus livros
e qualquer um que o agenciasse era considerado altamente sortudo naquele nicho
específico. Sua mente era responsável por best sellers e por crônicas lidas até
pelos mais leigos no jornal diariamente. Deuses, sua criatividade era tanta
que, outrora, ele escreveu episódios para séries de TV e outros programas. Não
é preciso dizer que emissoras brigaram por ele também.
Mas... Como
todo grande ídolo, ele tende a cair. É comum perder coisas na vida. Festas,
compromissos, empregos, apostas e principalmente entes queridos. Foi isso.
Depois de perder esse alguém parecia que meu amigo tinha perdido tudo. No
começo eu ainda tentava conversar com ele para tentar reavivar um pouco da
antiga relação entre mentor e aluno, entre amigos. Nada. Ele não escrevia, ele
não lia, ele quase não falava e com o tempo ele mal saía de casa para andar.
Houve um
tempo em que eu olhava para aquele homem e via uma pessoa forte a qual eu
admirava muito. Hoje em dia, quando o vejo sentado em sua mesa no canto do Café
do Geléia olhando para a rua esquálida e abjeta lá fora, tudo que vejo é o
corpo vazio de um grande homem. Um homem cuja vida inteira foi escrever. Hoje,
pela idade avançada e pela vida triste, não entende uma palavra que lê e nem
outra que escreve.
As vezes
penso: “É possível ficar de luto por alguém que não morreu?”
Meu avô, Luiz Taddeo, em entrevista para o SP TV no dia de lançamento de seu livro "Improviso para Leila" em Dezembro de 1984. |
Esta postagem é o mínimo de homenagem que posso fazer para meu avô, que completou seus 84 anos no dia 23 de Agosto deste ano. Obrigado pelo mundo que me proporcionou.