O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Emprestado


            Um objeto que boa parte das pessoas tem é uma prateleira. Como o nome implica, ela foi criada provavelmente para se colocar prataria, mas todos preferimos usá-las para colocar de forma ordenada (ou não muito) bonecos, porcelana, eletrônicos, troféus... Mas principalmente gostamos de usá-las para depositar livros.
            Qualquer pessoa que gosta de ler sabe que nada se compara ao cheiro de um livro novo, aquele cheirinho de livraria, o aroma que sai delicadamente do livro conforme o folheamos sem motivo aparente. A cena vista ao entrar em uma grande biblioteca, com seus pilares e paredes de livros, é algo de emocionar o bom leitor. E voltando ao aroma, até mesmo aquele aroma de livro velho encontrado em sebos é cativante! Pode perguntar para qualquer um que goste de livros e ele não irá negar. Mas um bom livro não merece ficar apenas na prateleira.
            Geléia adorava colecionar livros e mantinha um olho muito atento naqueles que ficavam disponíveis em seu café. As pessoas vinham pegavam um de alguma das pequenas prateleiras dispostas no local, se sentavam confortavelmente com seus cafés e liam até a hora de ir embora. Certa vez, quando estava limpando o local, percebeu que faltava um único livro. Olhou para os clientes e viu que nenhum tinha o que estava faltando, logo começou a estranhar. Ele não era de emprestar livros e sua confusão começou a crescer.
            - E aí, Geléia! – Falou a Cineasta, que entrava pela porta.
            Geléia só continuou pensativo com seu livro.
            - Tá tudo bem, cara? – Ela perguntou preocupada. – Cê tá meio pálido...
            Ele a olhou devagar e respondeu:
            - Desculpe, querida, mas é que estou meio confuso. Não acho um de meus livros...
            Ela olhou para a prateleira e sorriu.
            - “O Forte Sangrento”?
            - Esse mesmo! – O gerente parecia empolgado.
            - Você me emprestou, cara! Relaxa!
            Ele ficou mais aliviado, mas ainda estava um pouco apreensivo pois as pessoas tinham o costume de dobrar as capas de livros para trás, estragando toda a lombada.
            - E já terminou de ler? – Ele se aproximou para perguntar e não conseguiu esconder um pouco de medo em sua voz.
            - Sim! - Ela estava pendurando o casaco em uma cadeira.
            - Gostaria de tê-lo de volta...
            A Cineasta ficou pálida por um segundo e logo foi tomada por uma vermelhidão. Sua cara estava quente.
            - Ah, é... Certo, eu vou te... Hum, Posso talvez, é...
            Ela não fazia sentido. Geléia a encarou de forma dura. Depois de um suspiro ela cedeu.
            - Ah, tá legal...Eu emprestei para uma amiga, ok?
            Pânico.
            O Gerente arregalou os olhos. Se ele fosse asmático com certeza pegaria sua bombinha agora, mas ele conseguiu manter a calma correndo o mais rápido que podia em direção a cozinha e tomando, em apenas um gole, um grande copo de água. Voltou para a Cineasta.
            - O que? – Disse calmamente.
            Ela começou a ficar apavorada.
            - Eu emprestei... Foi mal...
            - Ela cuida bem dos livros?
            - Nunca vi as lombadas destruídas, se é o que quer saber.
            Geléia fez um barulho leve com a garganta que a Cineasta entendeu como uma leve reprovação e então se sentou em seu lugar.
            - Acho que você precisa ficar sozinho por um tempo. – Sugeriu para o amigo gordo.
            E ele voltou ao seu trabalho.

            Quando começou a chegar a fim da tarde Geléia, agora calmo, se dirigiu até a Cineasta com um cappuccino fresquinho para ela. O depositou na mesa e ficou ali parado.
            - Desculpe se fiquei nervoso, minha querida.
            Ela voltou seus olhos para ele e sorriu.
            - Tudo bem, imagino como se sente. Eu tenho filmes que não empresto. Mas relaxe, ela cuida bem dos livros. Garanto.
            Geléia sorriu de olhos fechados e ao começar a se dirigir para longe da mesa disse:
            - Se ela os ler... Com certeza os trata melhor do que eu.

"A Cineasta ficou pálida por um segundo e logo foi tomada por uma vermelhidão. Sua cara estava quente."

3 comentários:

O Torpedo disse...

Ótimo texto, Gi!!!

E é bem assim mesmo...a gente se apega às coisas, e as veZes nem usa, só deixa la guardado...

Mas gostamos de ser assim!!!

Hahahaha


PS: tenho que te devolver os AD&D...estão bem cuidados e guardados, relaxa^^

Julia disse...

isso me lembra que eu devo ter milhares de livros seus pra devolver :(

JURO que eles tão bem cuidados... JURO!!!

Rica disse...

Sabe, o vovô conheceu um senhor que pegava livros emprestados e emprestava para os outros sem perguntar para o dono. Se reclamavam com ele, ele dizia que um livro precisa ser lido, não serve a seu propósito se ficar em uma prateleira.

Papo sério. Tá no livro dele.