Um objeto
que boa parte das pessoas tem é uma prateleira. Como o nome implica, ela foi
criada provavelmente para se colocar prataria, mas todos preferimos usá-las
para colocar de forma ordenada (ou não muito) bonecos, porcelana, eletrônicos,
troféus... Mas principalmente gostamos de usá-las para depositar livros.
Qualquer
pessoa que gosta de ler sabe que nada se compara ao cheiro de um livro novo,
aquele cheirinho de livraria, o aroma que sai delicadamente do livro conforme o
folheamos sem motivo aparente. A cena vista ao entrar em uma grande biblioteca,
com seus pilares e paredes de livros, é algo de emocionar o bom leitor. E
voltando ao aroma, até mesmo aquele aroma de livro velho encontrado em sebos é
cativante! Pode perguntar para qualquer um que goste de livros e ele não irá
negar. Mas um bom livro não merece ficar apenas na prateleira.
Geléia
adorava colecionar livros e mantinha um olho muito atento naqueles que ficavam
disponíveis em seu café. As pessoas vinham pegavam um de alguma das pequenas
prateleiras dispostas no local, se sentavam confortavelmente com seus cafés e
liam até a hora de ir embora. Certa vez, quando estava limpando o local,
percebeu que faltava um único livro. Olhou para os clientes e viu que nenhum
tinha o que estava faltando, logo começou a estranhar. Ele não era de emprestar
livros e sua confusão começou a crescer.
- E aí,
Geléia! – Falou a Cineasta, que entrava pela porta.
Geléia só
continuou pensativo com seu livro.
- Tá tudo
bem, cara? – Ela perguntou preocupada. – Cê tá meio pálido...
Ele a olhou
devagar e respondeu:
- Desculpe,
querida, mas é que estou meio confuso. Não acho um de meus livros...
Ela olhou
para a prateleira e sorriu.
- “O Forte
Sangrento”?
- Esse
mesmo! – O gerente parecia empolgado.
- Você me
emprestou, cara! Relaxa!
Ele ficou
mais aliviado, mas ainda estava um pouco apreensivo pois as pessoas tinham o
costume de dobrar as capas de livros para trás, estragando toda a lombada.
- E já
terminou de ler? – Ele se aproximou para perguntar e não conseguiu esconder um
pouco de medo em sua voz.
- Sim! -
Ela estava pendurando o casaco em uma cadeira.
- Gostaria
de tê-lo de volta...
A Cineasta
ficou pálida por um segundo e logo foi tomada por uma vermelhidão. Sua cara
estava quente.
- Ah, é...
Certo, eu vou te... Hum, Posso talvez, é...
Ela não
fazia sentido. Geléia a encarou de forma dura. Depois de um suspiro ela cedeu.
- Ah, tá
legal...Eu emprestei para uma amiga, ok?
Pânico.
O Gerente
arregalou os olhos. Se ele fosse asmático com certeza pegaria sua bombinha
agora, mas ele conseguiu manter a calma correndo o mais rápido que podia em
direção a cozinha e tomando, em apenas um gole, um grande copo de água. Voltou
para a Cineasta.
- O que? –
Disse calmamente.
Ela começou
a ficar apavorada.
- Eu
emprestei... Foi mal...
- Ela cuida
bem dos livros?
- Nunca vi
as lombadas destruídas, se é o que quer saber.
Geléia fez
um barulho leve com a garganta que a Cineasta entendeu como uma leve reprovação
e então se sentou em seu lugar.
- Acho que você
precisa ficar sozinho por um tempo. – Sugeriu para o amigo gordo.
E ele
voltou ao seu trabalho.
Quando
começou a chegar a fim da tarde Geléia, agora calmo, se dirigiu até a Cineasta
com um cappuccino fresquinho para ela. O depositou na mesa e ficou ali parado.
- Desculpe
se fiquei nervoso, minha querida.
Ela voltou
seus olhos para ele e sorriu.
- Tudo bem,
imagino como se sente. Eu tenho filmes que não empresto. Mas relaxe, ela cuida
bem dos livros. Garanto.
Geléia
sorriu de olhos fechados e ao começar a se dirigir para longe da mesa disse:
- Se ela os
ler... Com certeza os trata melhor do que eu.
"A Cineasta ficou pálida por um segundo e logo foi tomada por uma vermelhidão. Sua cara estava quente." |
3 comentários:
Ótimo texto, Gi!!!
E é bem assim mesmo...a gente se apega às coisas, e as veZes nem usa, só deixa la guardado...
Mas gostamos de ser assim!!!
Hahahaha
PS: tenho que te devolver os AD&D...estão bem cuidados e guardados, relaxa^^
isso me lembra que eu devo ter milhares de livros seus pra devolver :(
JURO que eles tão bem cuidados... JURO!!!
Sabe, o vovô conheceu um senhor que pegava livros emprestados e emprestava para os outros sem perguntar para o dono. Se reclamavam com ele, ele dizia que um livro precisa ser lido, não serve a seu propósito se ficar em uma prateleira.
Papo sério. Tá no livro dele.
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