Estou em
minha laje. Sempre gosto de vir aqui para pensar. É um espaço grande, coberto,
arejado e iluminado de onde posso ver boa parte da cidade. Vejo as torres de
ferro, concreto e vidro. Vejo as luzes iluminando a vastidão quase infinita da
cidade que consome a terra como um câncer. Um câncer alimentado por
desesperança.
Esta laje
era um espaço totalmente aberto onde raramente alguém vinha. Seus únicos
visitantes durante a longa semana eram a noite, o dia e um ou outro pássaro que
decidia pousar como descanso para um futuro vôo. A laje sempre abrigou uma
pequena casinha de concreto, cujo interior consistia de uma cozinha
verdadeiramente pequena e as caixas d’água da casa. Eu me lembro de ir lá em
cima brincar quando era bem pequeno... iam as crianças da família e os pais e
tios. O que nos separava de uma morte certa por queda era um muro que, na minha
concepção na época, era gigante. Hoje em dia ele mal dá na minha cintura e
confesso que já senti vontade de pular e ver como seria viajar em direção ao concreto
em velocidade crescente.
Eu já senti
isso por que, como todo bom ser humano, vira e mexe eu tenho problemas.
Problemas com família, com trabalho, com amigos, com a vida em geral. Na
verdade, a vontade de pular da laje é por curiosidade (se eu fosse imortal
pularia sem hesitar, acredite) e não pelos problemas... Mas é para a laje que
venho quando tenho grandes problemas, ok!? Enfim! Sentado aqui mais uma vez eu
penso em tudo que se está passando pela minha cabeça e, olhando para a cidade
enorme que se estende à minha frente, eu logo penso: “É estranho como a vida e
todas as porcarias pela qual ela passa, nos faz sentir sozinhos por mais que
tenhamos muito...”.
Já parou
para pensar nisso? Quando você briga com alguém que você gosta, o que você
sente além de raiva e depois remorso? Solidão. Quando sua namorada termina com
você? Obviamente solidão e tristeza. Quando você é demitido? As vezes um
alívio... mas pouco depois, bate uma certa solidão por você estar em casa sendo
improdutivo enquanto as pessoas estão atarefadas (obviamente essa solidão vem
depois de você se tocar que está desempregado e não de férias...). E você sabe
que tem amigos e família... Mas vocês se sente e as vezes quer estar sozinho.
Ou não?
Quando
estamos sozinhos parece que fazemos uma autoterapia. Ficamos moendo e remoendo
os problemas da vida. Pensando e repensando o que fizemos de errado e então,
pensando nisso, voltamos milhares de vezes ao passado enquanto tentamos ver o
que diabos deu errado, onde e por culpa de quem! Quando estamos sozinhos
podemos falar com nós mesmos sem ninguém para julgar ou dar opinião na
discussão da sua mente contra a sua mente. Eu me pergunto, ás vezes, se o
efeito dramático de ficar sozinho perto de uma janela em uma laje enquanto
chove também é atraente para o ser humano querer ficar sozinho por um tempo.
Mas de
verdade? Eu estou sozinho aqui na laje. Não está chovendo e eu estou próximo da
janela segurando um cigarro e ao meu lado tem um gato e um copo de refrigerante. A
maioria dos escritores se utiliza de um copo de uísque ou outra bebida e eu
fico imaginando se ele é uma melhor companhia do que coca-cola. De qualquer
maneira, eu estou sozinho e não queria mais ficar. Tanto que nem sei por que
escrevi tudo isso.
É sério.
"Não está chovendo e eu estou próximo da janela segurando um cigarro e ao meu lado tem um gato e um copo de refrigerante." |