O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Superação


            A tarde estava bem agradável no Café do Geléia. Não estava muito quente lá fora e a recente chuva havia trazido consigo uma boa umidade para o ar e uma brisa bem refrescante que, combinada com as cores e sons da cidade, davam um clima bem peculiar e relaxante para os clientes do café.
            Geléia estava na porta do estabelecimento apreciando um de seus fumos doces de cachimbo (Um hábito que havia adquirido a pouco) e observando a rua bem iluminada pelo sol poente a sua frente. O som molhado dos pneus dos carros na rua era uma melodia urbana única e relaxante apenas para aqueles que gostam de verdade da vida tumultuada na cidade. Enquanto tentava soltar anéis de fumaça em sua porta, Geléia viu o carteiro se aproximando, desta vez mais tarde do que de costume.
            - Boa tarde, Geléia! – Disse com um sorriso jovial.
            - Boa tarde. Sem muita correspondência, imagino...
            - Na verdade desta vez o senhor tem algumas... Aqui estão. – E entregou um pacote junto de algumas cartas para o gerente, que agradeceu e entrou no café, segurando o cachimbo com os dentes.
            Geléia colocou sua correspondência no balcão e começou a abri-la. Contas. Um livro encomendado pela internet (Geléia havia começado a usar banda larga a pouco tempo e estava adorando. Seu bolso não gostava muito da idéia). Algumas cartas de pessoas conhecidas e queridas e outras de pessoas cujas presenças não faziam muita diferença na vida do gordo. Mas então uma carta se sobressaiu entre as outras... Um papel simples, sem remetente, um pouco amassado e com uma coloração meio amarelada pelo tempo.
            O gerente analisou o envelope por um instante e, deixando todo o resto da correspondência de lado, começou a abrir a carta misteriosa. Era uma folha de caderno um pouco mais grossa que o comum e sem pautas. Estava muito bem dobrada e sua superfície era bem lisa. Geléia começou a ler o manuscrito:
           
“ Saudações, Geléia...
            O senhor não me conhece pessoalmente, mas eu já o vi em algumas pouquíssimas ocasiões. Imagino que não se lembraria de mim, considerando o número de clientes que o senhor atende todos os dias. Lhe envio esta carta como um agradecimento.
            Sabe, faz poucos meses que frequentei o seu café pela última vez. Devo lhe parabenizar pelo clima agradável que proporciona a todos os que passam por aí. Seu estabelecimento é como um lar fora de casa. Algo mágico. Mas enfim, quando fui ao seu café pela primeira vez, eu estava abalado com um relacionamento recente... com problemas de saúde também e, por mais que eu tentasse, eu não consegui aproveitar a atmosfera que você, como todo carinho do mundo, queria proporcionar. Eu estava desmoronando e lugar nenhum podia impedir o sentimento...
            Mas depois eu fui visitar o local de novo. Sem a menor intenção. Eu estava andando sem rumo e parei em um café. Qual foi a minha surpresa ao descobrir que aquele café era o seu, Geléia. Mas o local me trazia memórias ruins, daquela outra vez em que me sentia em pedaços e logo saí correndo de lá... Sinto muito por isso...
O tempo passou e minha depressão foi sumindo (Com ajuda de muita terapia e de amigos agora muito próximos). Um dia resolvi voltar ao café. E foi lá que eu vi a magia. As pessoas conversavam entre si como grandes amigos reunidos em uma casa. Podiam conversar sobre o que quisessem e o aroma do café era quase o aroma de um lar. Era possível ver que o lugar abrigava a todos... Artistas, mochileiros, alternativos, idosos misteriosos e até pessoas que pareciam vir de outras épocas... Mas principalmente, você abriga aqueles que não tem para onde voltar.
            É meu amigo... Eu vi que minha carta de alguma forma chegou às suas mãos e logo foi parar em sua parede como parte de sua decoração. Por isso vim lhe agradecer. Você deu um lar às minhas palavras e me fez perceber que eu também tenho um lar.
            Ah, você deve estar curioso... Sim, ela foi me visitar. Mas só depois de muitas lágrimas percebemos que somos altamente contrastantes e que nossa relação não teria dado certo. É triste, eu sei... Mas não podemos forçar algo que nunca daria certo não é mesmo?

            Enfim, obrigado por me proporcionar um nova perspectiva de vida, amigo!
            Lhe desejo tudo de bom! Para você e todos que visitarem seu formidável Café.
           
            Um abraço a quem puder interessar!”

            Geléia terminou de ler e abriu um grande sorriso. Seu sonho estava dando certo e ele finalmente proporcionava aquilo que sempre quis proporcionar aos clientes.
            Viras chegou dos fundos, arfando, e Geléia abaixou para fazer um pouco de carinho no vira-latas.
            - Sabe, amigo? – Disse por fim – Eu nunca achei que o simples gesto de servir um bom café me traria tanto conforto.
            Olhando para a carta o gerente concluiu:
            - Acho que só precisamos de conforto para saber superar muitos problemas.

"Era uma folha de caderno um pouco mais grossa que o comum e sem pautas."
Para melhor entender este texto, leia o conto A Quem Possa Interessar...

Um comentário:

NeveZ disse...

Eu preciso de um pouco de conforto! Quem sabe resolvo algumas coisas!