O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Videogames

            Entretenimento é algo que todos precisam. Nenhum ser humano, por mais workaholic que seja, consegue passar a vida sem precisar de um entretenimento. Uma palavra muito diversa que pode se referir a leitura, cinema, televisão, quadrinhos, esportes, música, desenho e, como dito no título: Videogames.
            Faz um tempo que Geleia tinha comprado uma máquina de fliperama para o café. A ideia era que o aparato combinasse com a jukebox ainda funcional e o jogo de pinball, meio abandonado em um canto do estabelecimento. Essa era a ideia. Mal sabia ele que tantos de seus costumeiros clientes se interessariam pelo jogo dentro da maquina. Menino Ottis passava horas a fio jogando ao lado de K.D., Gregório e Thelma.
            - Usa bola de fogo, Ottis! - Gritava Gregório enquanto movimentava sem parar o seu personagem pela tela.
            - O bicho voa! Precisamos de outra estratégia!
            - Estratégia? A minha é espancar essa harpia sem parar! - K.D. mordia o lábio inferior.
            - Ai, gente, distraiam o monstro pra eu furar as costas dele! - Thelma parecia a mais calma jogando, embora seu interior fosse pura fúria.
            Enquanto os sons digitais de espadas, explosões e gritos ecoavam pelo café, um casal entrou no estabelecimento e foi direto ao balcão.
            - Boa tarde! - Geleia, como sempre, soava amigável.
            - Boa tarde. Dois expressos, por favor. - O homem pediu e logo se voltou para conversar com sua mulher.
            Ottis bateu no console gritando um sonoro palavrão e foi correndo ao balcão, deixando dinheiro nele e pedindo mais fichas para Geleia, que as tirou do bolso e entregou para o garoto.
            - Cadê aquele elfo desgraçado? - Ottis falou logo depois de colocar as fichas.
            - Dando um pau na gente! - Bradou Thelma enquanto seu personagem morria de novo.
            O casal de senhores tinham olhares preocupados na direção das crianças e quando Geleia trouxe o pedido eles não hesitaram em perguntar:
            - Onde estão os pais dessas crianças?
            Geleia abriu a boca para falar mas percebeu que ele mesmo não sabia a resposta, então apenas enrolou.
            - Estão chegando em breve.
            - Você não deveria proibir estas crianças de jogar esse tipo de coisa no seu estabelecimento? - perguntou a mulher.
            Geleia ficou confuso.
            - Deveria?
            A mulher levantou os ombros, como alguém que acabou de dizer algo óbvio.
            - Claro! Este tipo de jogo não foi feito para crianças.
            Geleia tinha certeza de que os jovens eram o publico alvo.
            - Toma essa seu orelhudo, maledeto! - gritou K.D. depois de matar o elfo com uma espada secreta.
            - Ei! Veja se tem mais armas violentas assim em outras telas! Quero uma também! - Gritou Thelma pedindo para K.D. e Gregório olharem na internet.
            Geleia terminou os pedidos do casal e os colocou no balcão enquanto os senhores se voltavam para o mesmo com olhares que misturavam tristeza e raiva.
            - Estão agressivos! - Reclamou a senhora antes de bebericar seu café.
            - E falando palavrões! Xingando em alto e bom som! - Continuou o senhor enquanto testava a temperatura de sua bebida.
            Ao fundo Geleia pôde ver o Artista chegando, olhando o jogo dos garotos e dando dicas antes de chegar com um sorriso no balcão, onde deixou sua mochila.
            - E aí, Geleia! O de sempre por favor. - Falou ainda com o sorriso.
            Quando o Artista percebeu os velhos ao seu lado, ele ficou quieto e seu sorriso diminui muito para dar espaço a uma expressão franzida. Eles o olhavam com reprovação.
            - Como você pode apoiar uma coisa dessas? - A senhora perguntou ao Artista.
            - Perdão? - Ele parecia confuso.
            - Você deveria ser um exemplo, não deveria deixar crianças jogarem jogos como aqueles! - O senhor disse apontando para o fliperama.
            Ottis deu um soco em K.D., que riu.
            - Dá para parar de explodir meu personagem com essas magias?
            - Galera! Ainda tem demônios nos atacando! - Gregório estava preocupado.
            O Artista quase gargalhou.
            - Olha... Se essas crianças não jogarem isso o que elas jogariam?
            O senhor começou a falar como os garotos poderiam jogar futebol nas ruas ou em quadras e também como poderiam se divertir fazendo mais esportes e coisas do tipo. A senhora estava indignada com Thelma e começou a reclamar sobre como uma garota não deveria dizer tantos palavrões e como ela deveria se comportar mais como "uma boa moça".
            O Artista sorriu com o canto da boca e bebeu um gole de seu Gelaccino.
            - Essas crianças aprontam várias além desse jogo! Isso é só uma válvula de escape para os problemas do dia-a-dia... Eles crescerão como qualquer outra criança.
            O casal parecia impressionado.
            - Isso se não se juntarem a algum culto satanista usando drogas! - A senhora falou.
            O Artista gargalhou e Geleia quase o acompanhou ouvindo a senhora.
            - Vai ver o problema desses jogos estão em pessoas limitadas que nunca os jogaram na vida, não acha, minha senhora? - O Artista a encarou enquanto fazia barulho ao beber. - Você deveria experimentar. Pode fazer você se livrar de toda essa personalidade reprimida. - Concluiu sério.
            Os senhores pagaram a conta e logo saíram. Insultados, claro.


            Depois de mais algumas jogadas os garotos voltaram ao balcão com caras felizes.
            - Conseguiram terminar o jogo? - Perguntou o Artista.
            - Não - começou K.D. - Nós morremos... Mas agora sabemos como passar de tela mais rápido! - o grupo todo concordou.
            E eles foram para uma mesa rir e discutir sobre a aventura enquanto dividiam refrigerantes e salgadinhos.
            O Artista se virou para Geleia.
            - Acho que fiz você perder uns clientes hoje... Sinto muito.
            O gerente sorriu, como sempre.
            - Prefiro perder clientes do que ganhar pessoas reclamando da minha gerência.
            Os dois riram.

"Essas crianças aprontam várias além desse jogo!"

5 comentários:

SerenityHime disse...

Consigo escutar várias conversas nossas nesse texto: o problema do politicamente correto; pais que proibem os filhos de jogarem ou lerem coisas porque vai deixá-los mais violentos, sem nem mesmo conhecer essas coisas; os jogos funcionando como uma válvula de escape para problemas que sem ela poderiam deixar a pessoa com vários problemas de saúde ou no mínimo descontando tudo nos outros; as meninas "inocentes" que não deveriam falar palavrão ou usar gírias de baixo calão; e principalmente como todos precisamos de coisas para nos divertir.
Adorei, meu lindo! Conseguiu expressar muito bem todas essas conversas de uma forma bem clara e sucinta. E gostei mais ainda que usou a nova ortografia no texto, me deu muito orgulho. S2

NeveZ disse...

O que seria de nós sem os vidrogueime!!??

EnZo M. Thomasi disse...

Escreveu muito...passou muito mais do que só com essas palavras, meu caro!

Brilliant! (anão do Warceaft3)

Bino disse...

Ah, o bom e velho video game...

E sempre vai existir ignorância, infelizmente...

EnZo M. Thomasi disse...

A gente deveria abrir o Café do Geléia...só acho...e tô falando sério, rapeiZe