- Como foi hoje?
Foi a primeira coisa que o Menino Ottis ouviu ao entrar no café. Geléia sempre perguntava a mesma coisa quando o garoto voltava da escola e Ottis sempre respondia a mesma coisa:
- Como assim? – Se sentou ao balcão.
- Ora, você sabe. Aprendeu algo novo? Aconteceu algo de engraçado? Sabe... Quando se tem a sua idade a escola é sua vida.
- Infelizmente, Geléia... Infelizmente...
Geléia terminou de passar um pano no balcão e trouxe o refrigerante de sempre para seu cliente quando percebeu um roxo em seu rosto. Ele sabia que aquilo era praticamente da rotina de Ottis, mas puxou assunto da mesma maneira.
- Foi aquele valentão do Tales de novo?
- O que? – Ottis arregalou os olhos e olhou para o gerente. – Ah, sim... Acho que nunca vou entender o que ele ganha com isso, Geléia. As vezes acho que devia usar capacetes como KD. Da ultima vez ele colocou um capacete oficial do jogo “Halo” que deixou a mão do Tales doendo por uma semana.
- Você deveria dar uma lição nele, Ottis.
- Como eu posso dar uma lição em um repetente de 90 metros de altura?
Geléia gargalhou e Ottis fechou a cara.
- Ahh, garoto... Brigar é errado. Então se ele entrar em uma briga com você, você deve fazer tudo que é errado! Dedos nos olhos, mordidas, cuspe, chute no...
- Você precisa de reforços! – Disse uma voz que vinha lá de trás.
Menino Ottis e Geléia olharam para a porta enquanto a figura larga se aproximava acompanhado de uma bem esbelta. O Artista solitário andava com um ar irritado e ao seu lado vinha a Cineasta, curvada e levemente cansada.
- Eu posso te ajudar com esse problema, garoto.
- Você sabe artes marciais e vai tentar treina-lo? – Perguntou a Cineasta, rindo acompanhada do Geléia.
- Não. Mas eu sou mais velho e posso te ajudar a arrebentar esse Tales. Que, aliás, tem nome de folgado! – Todos concordaram com a ultima frase.
- Qual é, cara... Você vai mesmo ajudar o moleque a bater em outro? – Dizia a Cineasta soando preocupada.
O Artista se aproximou dela e sussurrou:
- Na verdade só quero assustá-lo. Sabe... Faze-lo molhar as calças.
- Ah, sim! Você é realmente assustador, amigo! – Deu um tapinha em suas costas.
O Artista e Ottis então combinaram de se encontrar no dia seguinte na saída da escola para acabar com a raça de Tales. Poucos sabiam, mas um arrepio subia pelas costas do Gótico e menos pessoas ainda sabem que sempre é bom não ignorar tais sinais.
No dia seguinte o Café estava aberto aos poucos que por ali passavam, como sempre. Alguns tomavam cafés, outros pediam seus lanches e como o horário não era o mais movimentado, o silêncio era quase palpável no local. Geléia estava trocando os canais da TV acima do balcão quando ouviu algo parecido com o murmúrio de algo que há muito já deveria ter saído deste plano de existência e ao olhar para os lados percebeu que o Gótico se levantara de sua cadeira em um canto escuro e olhava pela janela.
- Está tudo bem, amigo? – Arriscou o gerente.
- Um vento gélido e fatídico se aproxima...
Ouviu-se o sino acima da porta. O Artista estava entrando e Ottis o acompanhava, os dois discutindo nervosos sobre como um deveria ter usado um gancho de esquerda, sobre como deveriam usar capacetes e Geléia teve certeza de ter ouvido algo a respeito de “soltar Hadouken”.
- Como foi hoje? – Perguntou e notou que os dois possuíam olhos roxos.
- Ele não sabe brigar, Geléia! – Reclamava o garoto enquanto empurrava o Artista de lado.
- Ei, Ei! Eu sei brigar! Mas se você tivesse me falado que ele repetiu de ano 19 vezes, talvez eu tivesse me preparado melhor!
- Ah, qual é! Você é inútil, cara! Eu vou é comprar um capacete do Rocketeer!
- Ah, qual é! Você é inútil, cara! Eu vou é comprar um capacete do Rocketeer!
- Da próxima vez não peça minha ajuda, moleque!
O silêncio era desconfortante, mas o Gótico sorria. Passados alguns minutos, o Artista se aproximou furtivamente do gerente.
- Geléia. Tem como marcar um café com chantilly e uns pães de queijo na minha conta? O Tales roubou meu dinheiro...
Geléia gargalhou e começou a preparar o café para seu cliente de cara emburrada. Quase sentiu saudades dos tempos de escola... Amigos, aulas, risadas... Até que olhou o olho roxo do artista. “Ainda bem que acabou” disse a si mesmo depois de pensar melhor.
E por falar em pensar melhor... Como o Menino Ottis sabia quem era o Rocketeer?
"Ah, qual é! Você é inútil, cara! Eu vou é comprar um capacete do Rocketeer!" |
3 comentários:
De fato, Tales é nome de folgado!
Beijos do Anônimo!
Tenho q concordar... O nome Tales inspira uma vontade de quebrar ossos!
Não tenho nada contra o nome Tales, mas pro cara repetir tantas vezes assim, só pode ser folgado MESMO! hahaha
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