Todos sabem que o natal é uma época mágica. Muitos não querem acreditar nisso, mas nessa época, mesmo estes que desacreditam, se lembram de pessoas com quem quase nunca falam e compram presentes para familiares que aparecem em casa uma vez ao ano. É uma época que lembramos de todos mesmo que por um segundo e é também uma época para se passar com a família comendo, bebendo e contando histórias.
Alguns preferem passar o natal com seus amigos mais próximos, seja por opção ou não. E esse era o caso daqueles que se encontravam no fechado Café do Geléia naquela noite. Todos estavam lá e o Geléia havia fechado o local e juntado algumas mesas para acomodar todos enquanto ele, Helen e a Cineasta terminavam de preparar uma deliciosa ceia. A mesa estava lindamente posta. Helen havia usado talheres de prata e a melhor louça que geléia tinha disponível e havia enfeitado a mesa com guardanapos e copos com temas natalinos.
Enquanto a ceia estava ficando pronta os outros conversavam à mesa tomando goles de vinhos trazidos das terras do Conde.
- Este que tens em mãos agora, artiste, é um clássico Chateau De Verenaux Aux Blendeau du Vin! – Dizia enquanto servia a bebida ao Artista Solitário.
- É seco? – Perguntou o Artista com cara feia.
- É doce. Suave, com um leve tom de esperança. Um vinho muito honesto e...
- Ok, Ok. Vou experimentar. Sabe que não sou de beber e essa sua habilidade de sommelier me irrita!
- Rá, Rá! Vai querer mais depois desse! Ninguém bebe apenas uma taça de Chateau De Verenaux Aux Blendeau du Vin!
- É um nome bem comprido hein! – Disse Geléia chegando com travessas.
Todos se aproximaram mais da mesa. Algumas travessas eram com saladas altamente enfeitadas e outras continham aperitivos deliciosos, especialidade do Geléia! A mesa farta enchia o coração do Viajante com um sentimento que o impedia de não sorrir. Ele preparava seu prato com cenouras, alface, tomates e brócolis, tudo temperado com azeite, sal e um molho de mostarda, alho e maionese feito pela Cineasta. O silêncio imperava no local enquanto todos se deliciavam com as entradas e se empolgavam ao sentir o cheiro que vinha da cozinha ao fundo.
- Acho que falta uma coisa apenas... – Disse Geléia enquanto se dirigia ao seu velho Jukebox.
- Precisamos mesmo de música quando não temos um quarteto de cordas depressivo? – Perguntou o Gótico enquanto cutucava sua comida.
Todos riram e geléia apertou uma série de botões. Dado um tempo a musica começou. Nada mais do que um leve piano em um ritmo de jazz que fez alguns baterem os pés ao ritmo. A coleção de jazz que Geléia possuía era incrível e contava com grandes títulos que todos ali agora apreciavam enquanto o som de piano começava a ser acompanhado por uma bateria leve e um saxofone digno de filmes noir. A noite lá fora estava muito agradável e só faltava neve e uma lareira para tornar a noite perfeita.
- Espero que não tenham se empanturrado, pessoal. Temos dois perus e esse monte de Conchiglione recheado para serem devorados! – Dizia Helen, seguida da Cineasta trazendo a tão esperada refeição.
Todos aplaudiram e logo começaram a se servir. Mal haviam todos se servido quando a luz acabou.
- Não! Um infortúnio dos mais desafortunados paira sobre nós! – Gritou o Conde (que tentou uma pose em cima da cadeira e só conseguiu cair dela).
- Velas, Geléia, rápido! Os monstros do escuro estão chegando! – Gritou o Menino Ottis enquanto abraçava Diego, que tremia.
- O que esse moleque está fazendo aqui? – Perguntou Ernesto depois de dar um tapa em Tremoço, fazendo-o entender o medo do amigo e acender um isqueiro.
Geléia pediu a calma de todos e buscou algumas velas. Curiosamente, a mesa se tornou mais bonita ainda e todos sorriram.
- Um natal a luz de velas... Romântico, hein? – Disse a Cineasta olhando para o Artista que só respondeu com uma risada e uma boa golada de vinho.
Mesmo a luz acabando na rua toda, os clientes não ligaram. Estavam comendo, bebendo, conversando e rindo. Depois dessa refeição seria a hora de trocar os presentes e para a ocasião, Geléia havia montado uma bela árvore de natal e todos deixaram lá os presentes que haviam comprado. As sacolas e caixas estavam todas amontoadas em pilhas coloridas que deixavam a simples cena contra a luz das velas algo digno de uma lágrima.
Geléia se sentou em uma poltrona e a arrastou para perto da árvore. Todos se sentaram a sua volta e ficavam aguardando ele distribuir os presentes. Menino Ottis tinha ganhado uma espada laser com 10 efeitos sonoros. O Gótico havia ganhado um relógio de bolso com uma foto antiga de uma mulher deprimida. O Conde tinha ganhado um manto roxo e dourado que acompanhava um capuz com os mesmos detalhes. Todos ganharam presentes excelentes e sorriam ao olhá-los e aprecia-los. O Artista tinha ganhado um conjunto de lápis de esboço Van Gogh e ficou olhando-os e pensando “Mas nunca que vou usá-los! Lápis acabam e esses são preciosos!” e enquanto se perdia em pensamento a Cineasta se aproximou.
- Obrigado pelo retrato do “Casablanca”. É um filme favorito! – Ela se sentou ao seu lado.
- Como sabia que era presente meu? – perguntou segurando a caixa de lápis que sabia que era presente dela.
- Eu simplesmente sabia. – Sorriu. – E aí? Gostou dos lápis, mané?
- Adorei! Mas vou ter medo de usá-los... Eles acabam...
- Ei, os comece no ano novo e termine de usá-los ao final dele para representar o fim de algo e o início de uma coisa melhor! – Ela sorriu e o beijou no rosto.
Ele ficou perplexo por um tempo e deu um abraço nela.
- Obrigado. Tenho certeza que adorarei usa-los.
- Bom mesmo. Eu os dei para serem gastos. – Ela sorriu e depois se levantou para ir conversar com Helen.
Foi então que a luz voltou. E sabem de uma coisa? Ninguém percebeu pois eles não precisavam da árvore iluminada ou de lustres garbosos. Tudo que eles queriam estava bem ali, naquele Café, naquele momento com as pessoas que importam para eles. E Geléia sem poder esconder a felicidade com aquele sorriso gordo olhou para a cena e disse:
- Um Feliz Natal de verdade...
Feliz Natal |