O Natal. Uma
época de esperança, amor, caridade, irmandade, reunião, comida e alegria. É uma
época mágica e são poucos os que podem negar o sentimento maravilhoso que fica
pairando no ar durante todo o evento. Mas para alguns, para estes poucos que
não conseguem sentir a magia, o Natal nada mais é do que uma época triste ou
cheia de mágoa e angústia.
Francisco
era desses. Um velho amargurado, sem filhos, cuja família que lhe restava não o
visitava no asilo onde vivia. Francisco fazia aniversário no Natal. Agora
imagine você uma criança que como todas as outras adora ganhar presentes, ter
festas com seu nome na parede ou simplesmente ter um dia especial com seus
amigos onde todos saem na rua, brincam como se não houvesse amanhã e comem
doces! Francisco nunca teve isso em seu aniversário. Quando era pequenino, o
Natal era comemorado no lugar de seu aniversário... A família lhe dava os
parabéns quando lembravam e, vez ou outra, ele ganhava um presente especial,
mas os presentes vinham com o cheiro do natal. Eles eram dedicados de outra
data e não da data de seu aniversário e por isso, só de vez em quando ele
ouvia, depois de “Feliz Natal!” um “Parabéns!”.
O jovem
Francisco cresceu e sempre na famigerada data perto do fim do ano, o jovem
franzia a testa e vestia o semblante de raiva, deixando no ar, em meio a ceia,
os rostos de dúvida dos familiares enquanto pensavam: “Mas por que este menino
está tão nervoso?”. Enquanto isso, Francisco nunca aproveitava sua comida. E
quando ele recebia roupas e outros itens de vestuário? A frustração do garoto
era palpável. Nenhuma criança gosta de receber tais itens... principalmente
quando cheiram a natal e o cheiro te deixa nauseado todos os anos. Mas assim
foi seguindo a vida de Francisco. Cresceu, estudou, fez amigos, namorou e fez
tudo que uma criança normal faria... Mas sempre próximo ao natal ele se tornava
outra pessoa.
Não sabem
se foi apenas por causa do natal ou outras tragédias da vida, mas o pobre
Francisco ficou sozinho quando envelheceu. Talvez o fato de membros da família
morrerem e ele ser tão distante de todos fez com que ele se tornasse tão
amargurado agora na avançada idade. Por não ter com quem ficar, Francisco, após
uma cirurgia ortopédica, decidiu ficar na casa de repouso em que estava. Não
era rabugento, mas também não falava com quase ninguém, não participava de
muitas das atividades e preferia ficar sozinho com seus livros ou apenas no
jardim, onde podia observar o movimento quase nulo da rua à frente. Como velhos costumes não morrem,
Francisco ficava muito rabugento e antissocial apenas durante a época de Natal.
Seu primeiro resmungo chegava assim que ligavam as primeiras lampadinhas nas
janelas e nas arvores do jardim (o qual ele parava de frequentar na época).
Depois, ele sempre ignorava os cumprimentos de “Feliz Natal” que os outros
velhinhos lhe desejavam e a única coisa que o deixava realmente um pouco mais
agradado durante a época, era que no asilo não se fazia uma ceia nem trocas de
presentes. Isso o confortava. Mas um dia tudo mudou.
Houve um
natal em que o asilo fora agraciado com a visita de diversas pessoas vestidas
de papai noel! Era um evento anual onde alguns jovens (as vezes muitos!) se
reuniam para sair na rua distribuindo doces e um feliz natal para todos. Eles
eram acompanhados por musica, alegria, muita vontade e uma carga quase infinita
de sorrisos. Estes jovens decidiram entrar no asilo e, diminuindo bastante o
barulho que normalmente faziam, foram andando pelo local abraçando os senhores
e senhoras que lá estavam e desejando a todos um feliz natal. Francisco ficou
quase vermelho de raiva mas de alguma forma... De alguma forma estranha,
aqueles jovens deixaram uma ponta de dúvida em sua alma. Uma dúvida que o fez
se perguntar, muito subconscientemente, se ficar nervoso com tudo era uma boa ideia.
Os jovens
se aproximaram de Francisco e uma garota vestida de vermelho e com um gorro lhe
disse:
- Fiquei
sabendo que é seu aniversário, Seu Francisco!
Ele
arregalou os olhos e começou a descruzar os braços.
Todos
começaram a cantar parabéns para o velho que finalmente ficou com olhos
arregalados de encanto naquela data que ele, durante todos esses anos, havia
julgado como terrível. Francisco derramou uma lágrima.
- Parabéns,
senhor Francisco! Muita saúde e alegria! Tenha um feliz natal! – a linda garota
de vermelho lhe disse.
Os jovens
partiram e todos o cumprimentaram.
Francisco
começou a chorar de vez e se levantou. Depois de enxugar as lágrimas ele disse
para seus colegas de asilo:
- Feliz
natal para todos! – E depois saiu para cumprimentar todo e cada um dos velhos
que ali moravam. Não valia a pena ficar nervoso com o Natal, Francisco pensou.
Se um monte de jovens sem ligação alguma com estranhos na rua podia sair
cantando e alegrando o dia de todos assim, de livre e espontânea vontade, o
natal era realmente uma época de alegria, caridade e irmandade.
Uma época
mágica.
Depois ouvi dizer que aqueles jovens viraram notícia. Pelo menos notícia local. Infelizmente, nunca vi nada publicado. Espero que eles continuem com o bom trabalho. |