O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quinta-feira, 15 de março de 2012

O Velho


            Vazio. Era como estava o Café naquela noite. As mesas, cadeiras, xícaras, bancos, todos estavam vazios. Qualquer um que passasse por lá poderia quase esperar um bredo-do-deserto passando pelo ambiente como naquelas cenas de filmes de faroeste durante um duelo mortal. Mas, como todos sabem, nunca algo está completamente vazio e, sendo um estabelecimento publico e de boa reputação, o café estava habitado somente por Geléia, Helen e o Velho.
            Geléia e Helen estavam apoiados no balcão. Helen tomava o seu café de sempre enquanto Geléia mexia para cima e para baixo o sachê que deixaria sua água quente com gosto de mel fazendo assim o famoso chá. Seus olhos fitavam o nada e ele estava com uma cara que expressava a mesma coisa. A televisão estava ligada, mas estava no mudo enquanto passavam desenhos animados que não cumpriam o papel de divertir o publico. A jukebox estava em um volume bem baixo, quase não atingindo os ouvidos de ninguém. Helen olhava o próprio reflexo em seu café e batia as unhas de leve na xícara que exalava um vapor leve que estava, lentamente, se esvaindo.
            A mulher começou a olhar para os lados e, depois de dar um gole leve na bebida, disse:
            - É...
            Geléia, ainda olhando para o nada, respondeu.
            - É... – E suspirou.
            E ali ficaram, naquele silêncio da falta de assunto por mais ou menos dois minutos. Helen então quase teve uma epifania. Percebeu que, em todos os anos que conhece o Geléia como gerente de café, ela nunca soube a origem do Velho. Sua mente então foi atacada por dúvidas. Quem era o Velho? O que ele fazia sempre por lá? Por que ele sempre tinha o sorriso estampado no rosto enrugado? E como certas pessoas se sentiam melhor depois de alguma conversa filosófica com ele?
            - Geléia? – Arriscou por fim.
            - Hm? – Seus olhos arregalaram, mas ainda fitando o nada, de um modo quase catatônico.
            - Qual a história do velho?
            Geléia acordou de seu torpor e olhou para o senhor. Ele estava sentado em seu canto, mãos na velha bengala artesanal e olhava para a porta com um sorriso. O gerente não conseguiu não sorrir ao olhá-lo. O Velho tinha esta estranha aura, algo quase místico, que o cercava. Todos o cumprimentavam dizendo “bom dia” ou “boa noite”, dependia do horário. Ele era quase que como um enfeite do lugar e todos concordavam que ele combinava perfeitamente com o conjunto.
            - Sabe que... eu sinceramente não sei? – Disse Geléia com um ar confuso enquanto levantava uma única sobrancelha. – Sei que já fizeram histórias sobre ele aqui... Alguns dizem que ele é o ultimo bom ser humano da terra. Alguns dizem que ele é imortal. Já ouvi gente dizendo que ele é Deus em pessoa... Eu acredito que ele seja um ótimo cliente. – Geléia parou e pensou um pouco olhando para os cantos do estabelecimento – E também é um bom enfeite...
            - Não chame o Velho de enfeite! – As palavras foram seguidas de um tapa no braço do gerente - Achei que você conhecesse todos os seus clientes... – Helen bebeu mais um pouco do café e olhou para o velho que acenou jovialmente para ela.
            - Ei, ele já estava aqui quando comprei o lugar! E ele sempre fica quando vou embora. Mas acredito que o mais importante seja o fato de que, quando eu o cumprimento com um aperto de mão, sempre acho dinheiro no meu bolso...
            E ali ficaram os dois amigos, conversando sobre os mistérios do “Negro Místico” local enquanto ele sorria para o nada, como se a vida fosse algo que ele conhece de trás para frente.

            Dado algum tempo, Geléia começou a fechar o café e como de costume, o velho ainda estava lá, dessa vez com Viras ao seu lado. Momentos depois, o gerente foi ao banheiro antes de começar a apagar as ultimas luzes. Enquanto estava lá, o Velho se levantou sorrateiramente como um verdadeiro bandido e escorregou um pouco de dinheiro para dentro do bolso do casaco do Geléia, que sempre ficava perto da porta. Viras o olhou virando a cara e com as orelhas para frente.
            - Deixe-o continuar acreditando na magia, garoto.
            E sorriu enquanto se sentava de novo.

"Qual a história do velho?"

2 comentários:

EnZo M. Thomasi disse...

Ae Gigiko, mto bom maninho!!!

Tu ta escrevendo cada veZ melhor!


E todo lugar tem um "velho", uma figura cercada de misterio e lendas urbanas...

Unknown disse...

Gosto de magia!