O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Frustração


            Era noite. Uma noite agradável. Não estava quente, nem frio, o clima era ótimo para usar uma camiseta e calças sem reclamar de sequer uma peça de vestuário. Também era uma noite agradável para tomar um café naquele lugar de sempre, na esquina da Orlontis com a Coronel Verde, aquele lugar quase sempre movimentado em noites como esta.
            A música estava agradável como sempre e no balcão estavam os clientes mais clássicos conversando com o gerente que trabalhava enquanto fazia parte das conversas. Enquanto isso, na televisão, passava “RoboCop” e poucos estavam assistindo. Estavam mais entretidos com aparelhos eletrônicos e conversas do que com o filme altamente violento.
            - Cara, eu adoro esse filme! – Dizia a Cineasta enquanto virava um pouco do cappuccino morno para dentro da boca.
            - Ele não deveria ter motivação agora que não reconhece a mulher e o filho... – Disse o Gótico com a voz costumeira enquanto segurava um grande copo de absinto.
            - A motivação dele são as diretivas. Ele é uma máquina, oras! – Disse o Artista Solitário.
            - “Meio máquina. Meio Humano. Totalmente Policial” – Disseram a Cineasta e o Artista em uníssono, demonstrando seu conhecimento sobre o filme.
            A conversa sobre cinema e afins seguiu rumo e era perceptível a sabedoria cinematográfica de cada um dos ali presentes. Depois de alguns minutos de conversa, a porta abriu com um grande barulho e, se isso fosse um filme, a música pararia, todos olhariam para o portal de entrada e alguém deixaria cair o cigarro da boca. Nada disso aconteceu. Em vez disso, os clientes do balcão olharam para a porta e viram que Menino Ottis estava chegando pisando forte até o balcão. Ele tinha um videogame em mãos.
            - Refrigerante, Geléia. Não importa qual! Nada mais importa! – Disse enquanto se virava no assento voltando-se para o resto do café, dando as costas ao balcão. Todos se entreolharam e o Artista decidiu começar um diálogo com o pequeno amigo.
            - Perdeu no jogo, Ottis?
            - Não. – Ele disse sem tirar a atenção para com o nada. – Só estou frustrado.
            - Não consegue passar de tela? Odeio isso também! Uma vez eu... – Tentou dizer a Cineasta que foi logo interrompida por Ottis.
            - Eu passo de telas. Estou frustrado por que... – Seu refrigerante havia chegado e ele bebeu um gole. – Estou frustrado por que, olha só: Quando eu jogo videogames eu tomo conta de personagens... Eles podem ser piratas, comandantes de naves espaciais, super-heróis, ninjas, feiticeiros, qualquer coisa! A frustração vem quando eu desligo. Eu desligo e de repente controlo o que? Um menino que vai mal em matemática e apanha na escola? Isso é horrível!
            - Ah, qual é. Você pode usar sua imaginação. Ainda tem muito tempo para brincar. – A Cineasta tentava confortar o garoto desolado.
            - Eu imagino as coisas e brinco com meus amigos, mas brincadeiras acabam assim como os jogos. Confesso que estou tentando me ocupar para não pensar nas armaduras que meu comandante espacial vai usar!
            A Cineasta parou por um tempo.
- Relaxa. Você só está um pouco viciado, isso é normal. Mas é melhor tomar cuidado para não misturar ficção com realidade.
Ela terminou seu cappuccino e se despediu dos amigos.

Quando todos começaram a ir embora, o Artista se sentou ao lado de seu pequeno amigo e disse:
- Sabe... Você deve ser forte nessas horas, Ottis.
O menino olhou com olhos arregalados para o jovem artista, que continuou.
- Você precisa ser forte por que... – Uma lágrima quase lhe correu o rosto. – Por que um homem só pode ser feliz de verdade na vida se tiver uma das três coisas: Uma nave espacial, Um robô gigante ou super poderes...
Ottis ficou desolado.
- Sinto muito amigo, mas essa frustração nunca vai sumir.
E lá ficaram os dois tentando esquecer tudo que estavam perdendo enquanto eram humanos normais em um mundo normal.

"Sabe... Você deve ser forte nessas horas, Ottis."

8 comentários:

Rica disse...

Todo dia eu tento acordar com super-poderes. Tenho falhado até então...

Caio disse...

Eu, assim como já disse o Menino Ottis, só queria a visão de raio-x. Mais nada.

Ly disse...

Sigo no mesmo ritual do Rica. Sempre choro quando ja deitei e estou confortavel, mas esqueci de apagar as luzes e nao tenho nenhum poder pra apagar por mim. Não tenho ao menos uma varinha pra gritar "accio copo de leite com toddy na medida certa" quando eu acabo de acordar. Tenho que ir lá e fazer EU MESMA. A vida é injusta mesmo.

Julia Taddeo disse...

o jeito é nunca perder a esperança...
né, pq existem milhões de radiações atingindo a gente todos os dias, quem sabe, um dia, a radiação certa vem e a gente ganha super-poderes, não? :)

Anônimo disse...

Tenho o poder de ser anônimo :)

Geléia disse...

Ahhh menino Ottis...
Sua frustração não existiria se jogasse Skyrim. Porque saberia que é impossível desligar o videogame uma vez que se é um Dovakin!

Gelatina disse...

Ahhh menino Ottis...
Sua frustração não existiria se jogasse Skyrim. Porque saberia que é impossível desligar o videogame uma vez que se é um Dovakin!

Gelatina disse...

Prezado Geléia,
Acidentalmente tentei controlar suas palavras,
favor desfazer meu erro,

Seu velho amigo, Gelatina