O Artista e o Viajante estavam em uma mesa no Café
compartilhando estórias. Fazia tempo que isso não acontecia pois o viajante
estava levando sua Bagagem Emocional para lá e para cá em busca de algo que nem
ele conhecia. A lareira estava acesa e os dois pegaram uma mesa próxima para se
esquecer do frio que fazia lá fora.
As cadeiras que escolheram estavam perfeitas. O
acolchoado havia se moldado aos traseiros de seus respectivos usuários que
agora estavam confortavelmente relaxados com pernas cruzadas e apreciando um
bom chocolate quente. O Artista, quase sempre melancólico de um tempos para cá,
falava sobre relacionamentos que não davam certo, de duvidas que ficavam em seu
subconsciente e falava também das oportunidades perdidas quando tratando do
enigmático sexo feminino.
As vozes dos outros clientes ao fundo criava uma
certa barreira de segurança para os dois que sentiam que podiam falar em bom
som sem que ninguém se irritasse, ouvisse de canto ou interrompesse. O Viajante
falava dos lugares que visitou e das coisas que viu, mas sem muita presunção.
Ele falava da busca eterna de sua alma por algo para preencher o vazio que ele
sentia muitas vezes. Foi em meio a desventuras que os dois viram Helen chegando
ao café com malas e toda agasalhada.
- Ela deve estar voltando de alguma viagem
também... – Disse o Viajante enquanto molhava a garganta com um pouco de
chocolate quente.
- E quando ela não está? – Sorriu o Artista
enterrando-se mais em seu assento e acomodando os braços nos apoios.
Helen ficou um tempo no balcão e, depois de pedir
uma taça de vinho, foi para junto de seus amigos perto da lareira. Ele veio
cheia de sorrisos e com um bronzeado que não estava lá antes.
- Boa noite, meninos!
Eles responderam com sorrisos e depois de trocados os clássicos “Como vão vocês?”, “Bem obrigado! E Você?”, ela logo começou a falar.
Eles responderam com sorrisos e depois de trocados os clássicos “Como vão vocês?”, “Bem obrigado! E Você?”, ela logo começou a falar.
- Gente! Eu acabei de voltar da Rússia! – Ela se
acomodou na cadeira que escolhera.
- Puxa vida. Parece interessante. – Dizia o
Viajante. Por mais que não estivesse com tanto interesse assim, ele conseguia
ser carismático a ponto de ouvir o que as pessoas tinham a dizer. Já o Artista
fechou um pouco sua expressão.
- É lindo! Os palácios, o frio, as roupas, as
pessoas! Nossa, vocês tem que ir pra lá!
O Viajante dava alguns sorrisos para ela e tentava
ser o mais amigável possível enquanto ela falava e falava sobre tudo que tinha
visto e de como o lugar era muito melhor do que aqui e toda aquela groselha que
todos falam depois de terem viajado para muito longe, tendo visto paisagens
exóticas. E como sempre, a moça terminou com a famosa frase:
- Vocês precisam ir pra lá!
O Artista suspirou.
- Desculpe, Helen, mas não... eu não preciso ir
para lá.
Ela virou os olhos sabendo que lá vinha mais uma
crítica.
- Por que sempre que as pessoas viajam para longe
ela ficam falando com os outros com um ar de “Nossa, vocês está perdendo sua
vida aqui” ou senão “Ai, vocês precisa viajar pelo mundo para aproveitar!”. –
Ele estava, na verdade, falando com quem quisesse ouvir, por isso Helen apenas
se recostou e ficou bebendo seu café.
Ele continuou:
- Viajar é chato! Custa caro demais simplesmente
para ver paisagens que ficam bonitas em fotografias. Viajar gasta dinheiro,
consome tempo, da dores de cabeça e tudo para te levar para um lugar que tem a
mesma coisa que tem aqui e estraga tudo no mundo inteiro.
- Pessoas? – Helen arriscou, sorrindo para Geléia
que passava lá perto e ria silenciosamente das balburdias do amigo artista.
O Artista continuou reclamando por um tempo e,
quando finalmente parou, Helen retrucou:
- Mas se você acha que as pessoas falam com esse
tom de “Você está desperdiçando sua vida”, então é por que, no fundo, você
pensa assim.
Com um ultimo gole de café, ela saiu com todo seu rebolado e voltou ao balcão para conversar com o Geléia. O Viajante olhou
quieto para seu próprio chocolate quente e o Artista sussurrou para si mesmo:
Um comentário:
Chega de viagens, uma hora dá no saco.
Saudades de "perder minha vida" de boaZ por aqui.
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