O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dia Chuvoso


            Às vezes as melhores memórias vêm em dias chuvosos. A chuva tem esse poder estranho, ela cai alto do céu, bate no chão e as milhares de gotas fazem um som agradável, quase hipnotizante, que faz aqueles que estão dentro de um aposento ou estabelecimento pararem por um instante para ficar observando a água escorrendo pelos vidros, descendo rua abaixo como um pequeno córrego ou saindo por uma velha calha no seu canto favorito.
            Existem pessoas que vêem a chuva como uma oportunidade para sair, sem rumo, e pensar em tudo, tudo que vier à cabeça durante sua caminhada ou passeio de carro por um mundo cinza que a poucos agrada. Alguns pegam seus guarda-chuvas e vão embora a pé e chuva adentro enquanto outros pegam as chaves do carro e dão a partida para uma jornada curta, mas muito esclarecedora por mais que deprimente às vezes. Mas uma coisa que todos esses peregrinos do dia-a-dia fazem é parar em algum momento, estejam eles longe ou perto de casa, eles simplesmente não querem voltar. O asfalto molhado que produz o som familiar de rodas espalhando água pelos cantos é agradável aos ouvidos depois da jornada e faz com que a pausa pareça mais ainda um santuário dentro de um mundo agitado que nunca dorme ou pára por causa das lágrimas dos céus.
            Neste momento estas pessoas escolhem locais favoritos ou locais novos para ser seu santuário temporário. Pode ser um restaurante onde os aperitivos e pratos principais já foram provados em ótimos momentos da vida e a bebida desce com um gosto nostálgico que trás um sorriso inconsciente e leves cócegas na espinha. Muitas vezes o santuário é uma livraria onde nem sempre o silêncio impera, mas todos estão focados em leituras, em buscas infinitas por livros que eles mesmos não sabem que buscam. Este santuário se torna mais um lugar onde se está cercado de pessoas, sons e histórias, mas ao mesmo tempo se está sozinho. Mas na maioria das vezes, este lugar é um café. Um estabelecimento em uma esquina pouco movimentada que estranhamente atrai toda sorte de indivíduo. Muitos passam, tomam seus cafés rápidos e outros ficam. Principalmente em dias chuvosos.
            E enquanto lá estão, observando a chuva cair, vêm as memórias. Um homem com muito que contar, mas sem muita vontade de fazê-lo pode ver seu irmão longínquo na chuva e sua saudade correrá pelo seu corpo como a água que cai. Uma jovem diferente com muito conhecimento de pouca aplicação pode ver seus sonhos mais distantes no vidro molhado por pequenas cachoeiras e dar um esperançoso sorriso. Um menino pode sair lá fora e pular em poças com seus amigos, rindo e se divertindo em mais uma situação que torna sua vida tão agradável. Três amigos podem chegar encharcados, se sentar e logo começar a discutir idéias sem muito se entenderem, mas gostando do momento que passam juntos.
            E ao mesmo tempo em que tudo isso pode acontecer, também pode existir um jovem. Um jovem com sonhos, idéias e toda uma história. Ele pode olhar para a janela, tirar seu gorro e lembrar de muito. O que o fez chegar até aqui, as pessoas que ele já amou, as pessoas que se foram, as pessoas que não o compreenderam, as pessoas que nunca vão voltar, os amigos que se vão sem dar explicação. Tudo. E ele pode ficar olhando pela janela por horas enquanto o gerente do lugar às vezes se pergunta se algo foi arrancado daquele jovem ou se ele talvez perdeu alguma coisa pelo caminho e esta é a hora de se arrepender.

            O jovem até poderia se dirigir ao seu amigo gerente e dizer que está tudo bem. Mas ele está muito ocupado pensando o tempo todo no sentimento tão antigo que finalmente voltou para seu coração, assim como a chuva que cai.

"Ele pode olhar para a janela, tirar seu gorro e lembrar de muito."

4 comentários:

NeveZ disse...

Ainda bem que nesse exato momento está chovendo por aqui...

Julia Taddeo disse...

pô, parece que choveu dentro do meu apartamento...pq esse texto realmente me emocionou :')

Joe disse...

Olha... preciso diZer que esse foi um dos melhores textos que vc já escreveu! Tá de parabéns, João Bon JovaZ!

Anônimo disse...

Malandro, muito bom! Escutei as rodas dos carros passando pelas valetas cheias de água corrente, um texto-retrato cheio de emoção!

Bj do Anonimo!