Todos
estavam olhando. A expectativa sobre ele era grande e isso fazia com que ele se
sentisse absolutamente pressionado. Eles deviam parar pois fica difícil se
concentrar nessas circunstâncias. Por um segundo sua dúvida, enquanto se
reerguia e tentava ajeitar as costas, foi: Eles deviam parar? Ou eu deveria
parar de ligar para os meus arredores?
Enquanto
pensava também lembrava do que fora ensinado e, logo, corrigiu sua postura.
Pelo menos ela estava correta. Ele ouvia o instrutor lhe dando advertências mas
não conseguia entender muito bem, pois o capacete estava quente e estava quase
apertando seu cérebro, tornando audível a circulação de seu sangue.
Tum-Tum.
A batida do
coração era seu foco no momento. Tum-Tum e mais nada. Ele não queria ouvir os
expectadores e nem seu próprio instrutor, ele queria sentir. Queria sentir a
batida e se reposicionar no mundo, se concentrar e se lembrar de tudo que fora
ensinado.
Tum-Tum.
Tentou se
posicionar melhor. Joelhos flexionados, costas eretas, mão esquerda erguida.
Tum-Tum.
Posicionou
melhor os pés, testando o equilíbrio e a força em seus joelhos. Estava no duelo
há muito tempo e podia sentir o corpo cansado e o suor parando em sua
sobrancelha.
Tum-Tum.
Ergueu
melhor a mão esquerda distribuindo com mais eficiência o equilíbrio de seu
corpo. Levantou o braço direito em posição de estocada. Os batimentos o
lembravam que as mãos também suavam e parecia que seu florete cairia a qualquer
momento, e por mais que as luvas impedissem isso de acontecer ele ainda se
sentia desconfortável.
Tum-Tum.
Fechou os
olhos.
Se imaginou
na sala em que estava, mas escura. Ele usava branco. Na escuridão pressentiu
que o inimigo se aproximava e, como em um filme em câmera lenta, a ponta do
florete veio em direção ao seu rosto. Desviou com sua própria arma e mexeu
rapidamente os pés, quase que saltando para a direção oposta de seu inimigo.
Naquele momento ele pôde analisar cada golpe, cada movimento, cada desvio, cada
falha na tática de seu adversário.
Quando
abriu os olhos ainda estava parado e não ouvia mais a sua circulação. Tudo
havia voltado ao normal e ele estava ouvindo os comentários e a motivação da
plateia. Seu inimigo estava exatamente onde ele havia visto. Sua posição estava
correta e ele estava pronto, quase que arrogantemente confiante. Enfim lançou:
- Vai ficar
parado aí o dia todo? – Um sorrisinho foi esboçado por debaixo do capacete.
O inimigo
avançou e, como tinha visto antes, parecia que tudo estava em câmera lenta. Sua
preparação funcionou e ele podia ver todos os golpes milissegundos antes de
acontecerem. Terminada a investida do adversário, ele fez seu avanço. Estocada,
investida, bloqueio, desvio, balanço e finalmente a investida que garantiu seu
sucesso. Todos paralisaram. Depois, seu inimigo começou a aplaudir e a plateia
o acompanhou. Ele decidiu abaixar seu florete e se juntar ao aplausos. Os dois
duelistas estavam rindo juntos e a vitória ficou clara.
O Conde
tirou seu capacete e foi cumprimentar seu professor de esgrima.
- Obrigado,
milorde! Sem vossa valorosa força de vontade em me ensinar, jamais teria
vencido tal batalha!
Seu
professor riu e tirou o capacete também. Coçou a barba enquanto ria e disse:
- Foi um
prazer duelar com você! É com certeza um de meus melhores alunos.
O Conde fez
reverência.
- Que tal
comemorarmos com o resto da sala? – Convidou o professor.
Parou por
um segundo, pensou e sorriu para seu mestre.
- Se quer
comemorar, conheço um ótimo lugar que acabou de reabrir.
"Tentou se posicionar melhor. Joelhos flexionados, costas eretas, mão esquerda erguida." |
4 comentários:
:D
a expectativa vai crescendo conforme a minha leitura... MUITO BOM MESMO :)
Muito bom hein, senti minha cabeça pulsando tambem......E esse lugar que reabriu? Vou tentar colar la mais vezes!
Mano, muito bom!!!!!! Fiquei empolgado com a dramatização tbem!!!
Adorei os tum-tums! Muito bom JovinhaZ, adorei vc ter mudado o clima abruptamente no final, quebrou a expectativa, foi ótimo.
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