O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Escritor


            Eu conheço algumas pessoas que escreveram livros.  Livros sobre arte, psicologia, didáticos, livros sobre diversos assuntos abordando diversas ciências e hobbies. Mas são poucas as pessoas que conheço que escrevem fantasias.
            Certa vez conheci um homem assim. Um homem cuja criatividade misturada à uma pena dava ao papel em branco um significado completamente diferente. Da tinta na ponta de aço saíam não apenas ideias, mas criaturas, lendas, heróis, mundos inteiros. Estes mundos vibravam com vida a cada palavra lida em suas estórias e, junto aos personagens profundos e bem elaborados, dava toda uma atmosfera que podia quase ser tocada com a mente dos leitores mais ávidos.
            Escrever um livro sobre um assunto que você é mestre é um trabalho para qualquer um que é bom no que faz. Você simplesmente pega um assunto, digamos computação, e então você começa a escrever tudo o que você sabe sobre aquilo nos capítulos relevantes e por aí vai. Você coloca os seus conhecimentos em um papel e não é lá muito diferente de um diário. Mas mesmo aí o diário ainda é mais complicado... Você consegue passar os seus sentimentos do dia para uma folha pautada ou em branco? Complicado, não? Escrever ficção é a mesma coisa. Você precisa criar mundos inteiros e personagens que se encaixem naquele contexto e cada um terá sentimentos, histórico, ligações emocionais e toda uma mentalidade própria dentro do mundo e sociedade fictícia em que ele foi criado. Nem todos tem esse dom.
            Mas ele tinha. Este meu amigo conseguia fazer tudo isso como em um passe de mágica e sua criatividade era de dar inveja. Editoras brigavam para publicar seus livros e qualquer um que o agenciasse era considerado altamente sortudo naquele nicho específico. Sua mente era responsável por best sellers e por crônicas lidas até pelos mais leigos no jornal diariamente. Deuses, sua criatividade era tanta que, outrora, ele escreveu episódios para séries de TV e outros programas. Não é preciso dizer que emissoras brigaram por ele também.
            Mas... Como todo grande ídolo, ele tende a cair. É comum perder coisas na vida. Festas, compromissos, empregos, apostas e principalmente entes queridos. Foi isso. Depois de perder esse alguém parecia que meu amigo tinha perdido tudo. No começo eu ainda tentava conversar com ele para tentar reavivar um pouco da antiga relação entre mentor e aluno, entre amigos. Nada. Ele não escrevia, ele não lia, ele quase não falava e com o tempo ele mal saía de casa para andar.
            Houve um tempo em que eu olhava para aquele homem e via uma pessoa forte a qual eu admirava muito. Hoje em dia, quando o vejo sentado em sua mesa no canto do Café do Geléia olhando para a rua esquálida e abjeta lá fora, tudo que vejo é o corpo vazio de um grande homem. Um homem cuja vida inteira foi escrever. Hoje, pela idade avançada e pela vida triste, não entende uma palavra que lê e nem outra que escreve.
            As vezes penso: “É possível ficar de luto por alguém que não morreu?”

Meu avô, Luiz Taddeo, em entrevista para o SP TV no dia de lançamento de seu livro "Improviso para Leila" em Dezembro de 1984.

              Esta postagem é o mínimo de homenagem que posso fazer para meu avô, que completou seus 84 anos no dia 23 de Agosto deste ano. Obrigado pelo mundo que me proporcionou.

10 comentários:

Satanais disse...

Mano...

;_;

NeveZ disse...

Bela homenagem, Verinha! Fiquei num misto de alegria e emoção durante a leitura. Com certeza uma grande inspiração! Triste por saber que dificilmente ele vai ter a oportunidade de ler ou conhecer esse texto.

Arrepios

FeZta disse...

Ofereceria meus sentimentos pelo seu luto, mas prefiro oferecer a minha gratidão por compartilhar a história de seu herói, cuja a emoção é tão forte que literalmente venceu a razão... Meus votos de felicidade à Luiz Taddeo e sua família repleta de heróis.

Garga disse...

Raiz para o Vô, e que ele sempre seja lembrado do jeito que vc escreveu!

Rica disse...

Isso me lembrou o final do Peixe Grande. Acho que ele merecia algo do tipo!

Torpedo disse...

Caralho...chorar por causa de um texto ainda é coisa de baitola??? MUITO bom Gi

Julia disse...

Talvez não seja impossível isso. O homem que o vovô foi já não está mais lá... Ele se foi há muito tempo. Acho que ele se foi junto com a vovó :/

lindo o texto, Jovinhaz.
Vou até psasar para o meu pai.

O que posso dizer é que não lembro muito do homem que o vovô foi, mas sinto que o conheço muito bem pelos seus textos, pelo jeito que se expressava e também pelas histórias contadas pelas nossas famílias.

Obrigada pelo texto... Acho que você colocou em palavras os meus muitos pensamentos espalhados nessa cabeça quase oca que tenho...

Bacchin disse...

Mesmo tendo um final não tão feliz quanto poderia ter, da pra ver que ele deixou uma marca na história que poucos sequer vão chegar perto de deixar durante as suas vidas =)

(Belo texto!)

Anônimo disse...

Nossa diferença é 30 anos, mas ele sempre teve a minha idade. Éramos nossos melhores amigos... chegávamos a incomodar de tão bem que nos dávamos.
Uma vez caiu numa prova um problema de matemática que um menino nasceu quando seu pai tinha 30 anos. Quantos anos terá esse menino quando o pai tiver o dobro da sua idade?. Eu não tinha ideia de como fazer essa conta, mas meu pai já havia me dado a resposta quando um dia comentou “vou ter 60 anos quando tiver o dobro de sua idade”. Com esse pai, até a matemática é dispensável. E assim foi pro Giovani que sempre desprezou a matemática e fez uma baita homenagem pro meu pai/seu avô.
Embora o meu nome tenha sido escolhido pela minha mãe, foi ele que me registrou e fez questão de atualizar a gramática: Luís com S e acento no i. Diferente do dele, mas com o mesmo som, o que agradou a minha mãe. Aliás o que ele mais gostava de fazer era estar com a Belinha em todos os sentidos. Quantas vezes eu o vi deitado de bruços no chão da cozinha, lendo um livro, com o sol batendo nas costas enquanto ela preparava o almoço?. Era uma dependência fodida.
Dependência que toda a sua estrutura mental, cognitiva e intelectual se sustentava sobre ela. Quando lhe a faltou a casa caiu. Seus neurônios ficaram igual a formigas quando se pisa no formigueiro. A diferença é que até as formigas superam e se reorganizam. Porém o nosso herói é muito super pra isso. Sua obstinação por aquela realidade não lhe permitiram ter um plano B. Ou assim ou nada. E cometeu um tipo de suicídio em que cremou sua criatividade junto com minha mãe/sua avó.
E não vejo possibilidade de ficar de luto se ele continuar no Café do Geleia.
Beijo do tio
P.S. Atualizei a gramática: Geleia perdeu o acento

Tio Luisinho disse...

Desculpe que Giovanni é com 2 n