O Artista
estava entediado. Durante as ultimas semanas ele ficou passeando de café em
café, procurando algo que chegasse pelo menos ao pés do, atualmente fechado,
Café do Geléia. Nada o convenceu. O café não tinha o mesmo gosto e por mais que
ele gostasse de ficar sozinho em seu canto, tinha alguma coisa no café que era
diferente.
De lugar em
lugar, de mesa em mesa, sempre havia algo errado. Se sentava sozinho, a
inspiração não lhe ocorria e, no máximo, se sentia apenas sozinho demais. As vezes
tinha a impressão de que fazia, sem querer, uma cara de criança pedindo por
amigos. Quando pensou nisso a primeira vez se lembrou imediatamente do Menino
Ottis perambulando pelo café com seu refrigerante, ou tentando filosofar com
Diego, o único do Café que tinha uma mentalidade parecida com a sua
(Mentalidade esta que o Artista compartilhava, mas não admitia).
De xícara
em xícara, de sabor em sabor, sempre tinha algo diferente. Mas nada bom.
Ninguém parecia capaz de lhe preparar um café gelado com chantilly e cobertura
de caramelo que se igualasse ao do Gelaccino do Café do Geléia. E onde mais o
Artista poderia ter a honra de dizer que o nome foi dado por ele? Nenhum lugar
tinha uma bebida onde ele levava créditos. Esta era uma frustração que ele com
certeza teria dividido com a Cineasta Desacreditada. Ela lançaria algum
comentário sarcástico e os dois ririam das próprias desgraças como “Artistas
Famintos”. Depois ele pararia de ouvir o mundo para olhar o sorriso com
aparelho dela.
De ambiente
em ambiente, de musica em musica, o aconchego era outro. Confortável sim, mas
não o suficiente...Faltava algo, faltavam as pessoas certas. O Artista tinha
saudade dos três pilantras com Ernesto fazendo planos enquanto Tremoço e Diego
interpretavam cada um de sua maneira. Helen conversava com a Cineasta enquanto
ao fundo a gangue do Ottis ria com alguma coisa infantil enquanto K.D.
enfeitava a mesa com algum capacete diferente. Era estranho você simplesmente
chegar na porta de um Café sem ser recebido pelo Viras, mais estranho ainda era
um Café sem um constante arrepio na espinha, em certas noites nevoadas, por
causa da presença misteriosa do Gótico que, muito provavelmente, estaria na
mesma mesa do Conde.
Mas o pior
de tudo, era não ser recebido pelo seu grande amigo no lugar que era seu sonho.
Geléia era um amigo muito especial na vida do Artista e o dia-a-dia sem ele
era, no mínimo, esquisito e tedioso.
Em meio as
suas andanças por cafés, o Artista decidiu voltar ao local que fora fechado.
Tinha certeza de que estava andando mais rápido do que o normal até seu
objetivo enquanto ouvia musica alta para ignorar o mundo a sua volta julgado
inútil. Andou um bom tanto e chegou ao local. Estava igualzinho a ultima vez
que o viu, impecável e expressava um ar de conforto e aconchego. Seu santuário.
Se aproximou, olhou pelo vidro e viu o que esperava. O Velho ainda estava lá,
do jeito que o Geléia tinha deixado, e o Artista não pode conter um sorriso,
principalmente quando, vindo da esquina, chegou Viras, todo cabisbaixo. O Artista
se sentou à porta com um ar desolado, mas esperançoso e lá ficou. O cão sentou
ao seu lado enquanto recebia carinho e os dois adormeceram no local, como
crianças fazem ao esperar papai noel.
O Artista
acordou num salto ao ouvir a porta abrindo e se levantou com uma rapidez que o
impressionou. Corrigiu sua postura e olhou para trás para ver o que tentara
abrir a porta.
- Desculpe
se o assustei, artiste. – Disse
Geléia, com aquele sorriso jovial de sempre no rosto. Ele estava parado à
porta, usava um chapéu e tinha um bronzeado novo.
O Artista
quase chorou de emoção e abraçou o velho amigo.
- É bom
vê-lo de novo, Geléia! – Eles se abraçaram.
- Eu disse
que era temporário, garoto, mas... Ninguém acredita, por melhor que seja seu discurso.
Os dois
ficaram parados à porta por um tempo até que Geléia arriscou:
- Agora...
Sendo meu primeiro cliente, que tal um Gelaccino e alguns pães de queijo?
- Achei que
nunca fosse perguntar!
"Corrigiu sua postura e olhou para trás para ver o que tentara abrir a porta." |
4 comentários:
Sejamos todos muito bem vindos, porra!!!!!! Onde ele tava!!!??? O.o
"Then world behind and home ahead (...) Mist and twilight, cloud and shade, / away shall fade! Away shall fade!/ Fire and lamp, and meat and bread!"
Bem- vindo de volta, artista.
Que sejamos TODOS bem vindo ao Café do Geléia!!!
Me vê um Gelaccino, aí, POR FAVOR!!!
Aeeeeee!!!
É nóiZ carai!
Recipes for Gelaccino, please!
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