Crianças.
Todos já fomos um dia. E sempre nos lembramos com muito gosto de todas as
aventuras daquela época. Quando nos lembramos sempre damos risadas, sentimos
saudades, lembramos de brigas, disputas e raivinhas infantis, mas desta vez com
um sorriso no rosto, pois sabemos o quanto éramos inocentes e bobos. O problema
é que, ninguém sabe aproveitar a própria época, então, para uma criança, ser
criança é um saco. Para alguns, pelo menos.
Gregório
estava no Café do Geléia. Sentado em uma mesa qualquer, mal balançava os pés
que não tocavam o chão enquanto quase afundava a cara em um livro que, para a
sua idade, era muito grande. Geléia até pensou em perguntar o que o garoto
estava lendo, mas, percebendo a concentração do menino, não quis atrapalhar.
Além disso, ficou admirado com o tipo de leitura do garoto. Quando o garoto
percebeu o gerente passando com cafés em uma bandeja, logo o chamou para perto.
- Por
favor, Geléia... Poderia trazer dois achocolatados com chantilly?
Geléia
memorizou o pedido e seguiu seu rumo. Microssegundos depois perguntou ao garoto
o por que de dois achocolatados.
- Estou
esperando a Thelma... Combinamos de estudar hoje. – Explicou Gregório.
O Gerente
seguiu seu rumo e sorriu um sorriso simples que expressava admiração pela
atitude dos meninos. Quisera ele ter esse tipo de disciplina quando mais jovem.
Pouco tempo
depois, quando Geléia estava trazendo as bebidas, Thelma cruzou a porta em
passos rápidos e pouco espaçados. Ela estava com uma cara apertada e azeda,
como se tivesse acabado de chupar um limao.
- Boa
tarde, Geléia. Obrigado! – Disse ela enquanto subia na cadeira e colocava os
óculos sobre o nariz. – Deu uma olhada nos tópicos e exercícios que vamos
estudar hoje? – Perguntou para Gregório enquanto abria seu caderno em cima da
mesa.
Ele
respondeu com uma afirmação sonora sem nenhum entusiasmo e apoiou a bochecha na
mão. Thelma suspirou e, mesmo tendo colocado os óculos a pouco tempo, os
retirou e massageou entre os olhos.
- Temos
mesmo que fazer isso? – perguntou se apoiando na mesa.
- Se
quisermos manter nossas notas, sim. – Gregório quase fez um sacrifício para
levantar os olhos em direção a sua amiga para responder tristemente.
Os dois
concordaram soltando um barulho de frustração enquanto voltavam seus rostos
para os livros. Não mais do que de repente, a porta do Café se abre rapidamente
e entram correndo o Menino Ottis e K.D., os dois rindo.
- Rápido,
Geléia! Precisamos de um cronômetro e barras de chocolate!
Geléia foi
até os fundos e voltou com um cronômetro velho, mas funcional.
- Não sei o
que pretendem fazer com isso, mas devolvam sim? E os chocolates, vocês sabem o
quanto custam. – O sorriso parecia nunca deixar seu rosto.
Os garotos
compraram os chocolates e saíram correndo em direção à porta e só gritaram “Oi”
para seus amigos enquanto saíam empolgados para a calçada. Gregório e Thelma
olharam pela janela e viram K.D. erguer o capacete de Jiraiya até a altura da
boca para engolir quase que imediatamente uma barrinha de chocolate. Depois
Menino Ottis começou a rodá-lo rapidamente enquanto os dois riam. K.D. girou
muito e quando parou, Ottis começou a cronometrar enquanto o amigo se esforçava
para ficar em pé enquanto cambaleava. Muitas risadas e alguns segundos depois,
K.D. vomitou no chão e se recostou em um muro enquanto tentava se recompor.
Ottis gritou o tempo que o garoto aguentou.
- Olha só
aqueles dois... Poderíamos estar lá com eles. Acho que eu preferiria estar
vomitando do que estudando para essa prova chata. – Lamentou Thelma passando a
mão no vidro da janela.
Gregório se
ajeitou em seu assento e tentou soar como um herói:
- Não
podemos fraquejar, Thelma! Por mais que eu goste do Ottis, temos que admitir
que, as vezes, o intelecto do nosso amigo é meio limitado. Nós somos muito mais
inteligentes e as pessoas esperam muito de nós! Eu preciso tirar um 8 nessa
prova ou a minha mãe vai me deixar longe de vocês por pelo menos três
semanas...
Thelma se
sentou emburrada.
- Odeio o
fato de as pessoas terem expectativas em cima de mim... Sou só uma garotinha!
Eu devia estar brincando de bonecas, comendo chocolates e vomitando... – Ficou
pensativa. – Talvez não essa última, mas eu com certeza não deveria estar me
preocupando em tirar um 7...
- Enquanto
formos melhores que o resto... Vamos ter que nos contentar com isso...
E os
estudos continuaram, enquanto ao fundo risadas e giros eram cronometrados.
Depois de
um bom intervalo de tempo, Ottis entrou no Café junto com K.D., um apoiado no
outro. As risadas estavam diminuindo como um motor desacelerando.
- Geléia!
Dois refrigerantes, por favor!
- Ottis,
essa foi demais! Os resultados foram ótimos! – K.D. disse com orgulho enquanto
se esparramava em uma cadeira.
- Tenho
certeza que a professora vai ficar admirada.
Geléia veio
trazendo as latas e logo perguntou do que os garotos estavam falando. K.D.
prontamente respondeu.
- Um
pequeno estudo do efeito de velocidade crescente gerando força centrípeta. Não
podemos explicar agora... estamos meio cansados...
- Mas
explicamos depois. – Interrompeu Ottis. - Temos que escrever um relatório para
a professora mostrar ao diretor. Acabamos com as aulas de ciências,
praticamente! – Os dois amigos se cumprimentaram.
Em meio as
mesas, Geléia pode jurar que Thelma derramara uma lágrima de frustração.
"Olha só aqueles dois... Poderíamos estar lá com eles." |
5 comentários:
É o que me faz ficar dividida... E muitas vezes (confesso!) angustiada:
Os livros e cadernos abertos, eu fechada para um mundo de coisas que me fariam muito mais feliz, e em meio a isso tudo a vida ali, acontecendo.
Me fez lembrar o nervo troceps q vc e o Enzo descobriram. GENIAL!!!
Bem vindo ao meu mundo... Hahaha! Nem lembro quantas vezes me senti frustrado assim... Boa JovinhaZ!!!
Oh meu deus vc fez o retrato da minha infância! <3
De longe o melhor post do Geléia!
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